Diz aí, Mestre Novaes:
Não tenho dúvidas ao afirmar que o futebol brasileiro deitou na sombra dos seus cinco títulos mundiais e está tirando uma soneca a espera de que Neymar, nosso único super craque no momento, entre em campo e decida a Copa de 2014.
Comecei a suspeitar de que alguma coisa estava fora do lugar quando o Flamengo levou um baile – não há outra expressão – do Universidade do Chile (4x0) em pleno Engenhão pela Sul-Americana do ano passado. Depois refleti melhor e admiti que aquela derrota fora apenas uma surpresa a mais das muitas que se escondem na caixinha do futebol.
Mais a frente veio a final do Mundial de Clubes e o Santos contra o Barcelona tirou uma xerox do Flamengo contra os chilenos.Tive a impressão de que os santistas estavam tontos em campo e por isso não viram a cor da bola (ou o contrário). Dei o desconto de que se tratava do Barça, o melhor time do planeta, base da seleção campeã mundial. Mas pelo que o Santos jogou – ou conseguiu jogar – perder de 4 foi um bom resultado.
Agora o Vasco recebeu a visita do Nacional do Uruguai em São Januário, pela Libertadores e repetiu-se a cena dos jogos supracitados. Até a metade do segundo tempo os jogadores vascaínos estavam doidinhos, batendo cabeça, sem saber que diabo de futebol era aquele jogado pelos uruguaios.
Dessa pequena amostra - três jogos – cheguei a triste conclusão de que o futebol tupiniquim parou no tempo. Parou e não sai, como uma mula empacada.
Por que? Deixando de lado a soberba pelo cetro e a coroa que recebemos como “reis do futebol”, vejo nos treinadores a principal razão de termos perdido o bonde da modernidade. Seja por medo de perderem o emprego ou porque a boa parte sentou em cima de seus altos salários, o fato é que eles estão conduzindo nossos times com o espírito burocrático de uma repartição pública.
Quase todos ex-jogadores, eles reproduzem para seus “pupilos” os mesmos ensinamentos que receberam de seus técnicos como que carimbando uma folha de papel e passando adiante.Só que os tempos são outros...
Sei que uma fração da imprensa especializada não acredita na importância do treinador (“treinador não entra em campo!!”). Para eles basta o talento e o descortino dos jogadores para decidir um jogo. Tal opinião – convenhamos – não tem sido saudável para a evolução do nosso futebol.
Neymar pode decidir um jogo com uma jogada fantástica mas para que a bola chegue aos seus pés é preciso um planejamento tático, que sai da cabeça do treinador. Universidade do Chile e Nacional de Montevidéu com um bando de anônimos botaram os talentos de Flamengo e Vasco na roda (e aqui, dentro de casa!)
Não faltará quem diga que os problemas vêm desses cartolas do paleolítico ou das escolinhas de base que não atualizam seus sistemas de ensino. No topo da pirâmide, porém – insisto – estão os treinadores que limitam suas ações aos esquemas de jogo: três ou quatro zagueiros? Dois ou três volantes? Um ou dois atacantes? E por aí vão, mexendo as “pedras” nos seus tabuleiros sem se preocupar em adestrar os jogadores para o novo futebol.
Não é tarefa simples mudar o comportamento do jogador brasileiro dentro de campo. Ele já criou várias camadas de vícios, uma casca (grossa) difícil de ser removida. Há anos, décadas, vem guardando posição (só troca de lugar por orientação do técnico), não está habituado a jogar agrupado, tem dificuldade em tocar a bola de primeira, adora dar chutões para frente e raramente parte em velocidade para o ataque. Tudo isso é treino. E quem treina os jogadores?
Os treinadores poderiam aproveitar esses insípidos campeonatos regionais para testarem novos conceitos, novas maneiras de jogar ao invés de ficarem fazendo experiências individuais. Certamente os times iriam errar, se atrapalhar durante o aprendizado, mas a intenção de melhorar talvez contasse com o apoio dos torcedores. Pior do que está é que não pode ficar: os times errando muito sem aprender nada.
Se me permitem uma comparação: estamos praticando um futebol da era dos dinossauros. Depois não se queixem... Quando acordarmos pode ser tarde demais.
9 comentários:
Antes fosse culpa dos treinadores, mas a culpa da estagnação vem de cima, de quem esta comandando o circo.
Os jogadores, principalmente nas escolinhas precisam ver mais os vídeos do Coerver. O profissionias precisam de uma revisão portanto também precisam ver os vídeos do Coerver. Faltam fundamentos, técnica, físico e tática. E claro faltam jogadores bons no banco. Temos posições sem reposições. Por falar no bando do banco, estes também tem que ver os vídeos do Coerver.
brilhante o artigo. Estamos numa entressafra de craques tremenda.
Quais são os craques de nossos clubes?
os melhores jogadores?
Que brasileiro arrebenta na Europa atualmente?
silêncio...
sei não... caminhamos para uma Copa do mundo decepcionante...
Fabio Medici
É por ai mesmo Fabio.
Lembra um pouco aquela época que o Falcão assumiu a seleção, era feio de ver o time jogar, dai uns anos depois o Parreira montou um ferrolho, e pra sorte dele existia um certo Romário.
Mas naquela época os demais países não tinham muito à oferecer (Maradona em decadência, um Matthaus já em fim de carreira).
Hoje com a Espanha e principalmente Alemanha do jeito que estão...sei não....ou uns juízes caseiros ajudam, ou vamos passar vergonha aqui.
Menos mal que os argentinhos não conseguem armar um time meia boca pro Messi jogar.
Extra! Extra!
http://shoopashampoo.blogspot.com/2012/02/bomba-ricardo-teixeira-renunciou-cbf.html
"...mas a intenção de melhorar talvez contasse com o apoio dos torcedores."
Esse é o problema!
Qual técnico vai jogar um campeonato (qq que seja) e usá-lo para fazer testes?
Duas derrotas seguidas e ele já estará com a corda no pescoço.
Recentemente o Abel foi vaiado porque o fluminense GANHOU o jogo de 1 x 0.
O negócio é cultural. Leva-se anos para mudar isso...
Curioso que a matéria do Globo de hoje sobre Framengo e o time argentino começa enfocando justamente o tema destacado pelo Mestre Novaes.
Eita que só fala do Flamengo essa gente.
Mas tá certo...não tem muito que falar do Botafogo né !!
:)
Mania de perseguição, sô! Nem leu a matéria. Pegue o palmtop e vá pro closet ler, pô!
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