segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Como falar de livros que não se leu
Da arte de não ler
"O recém-lançado Comment parler des livres que l’on n’a pas lus (“Como falar de livros que não se leu”), do professor de literatura e psicanalista francês Pierre Bayard, não é exatamente um daqueles manuais para blefadores que andaram na moda alguns anos atrás. Sendo um intelectual francês, Bayard tem pretensão maior – alguma coisa a ver com uma defesa da não-leitura como atividade criadora. Como estou falando do livro dele sem tê-lo lido, fica tudo em casa.
Mas Comment parler… é, antes de mais nada, uma provocação, e como tal tem atingido seu objetivo. De um lado Bayard vem colhendo o apoio risonho de quem reconhece sua coragem de ir contra a hipocrisia e cutucar um tabu de intelectuais – pois é evidente que todo mundo trapaceia de vez em quando, mesmo porque o tempo para ler tudo o que se deveria ler anda escasso pelo menos desde o início do século XVIII. Recepções simpáticas ao livro de Bayard podem ser lidas no artigo da “Lire”, em francês, e, com uma dose maior de ironia, na resenha do “New York Times”, em inglês.
Naturalmente, também é possível carregar no sarcasmo, como fez esse artigo publicado no “Times” de Londres (onde mais?) ao dizer que o livro de Bayard confirma algo que sempre se suspeitou sobre os acadêmicos franceses: “que, em sua maioria, são fraudes subsidiadas além do que valem”. É provável que a verdade esteja em algum lugar no meio do caminho, mas uma coisa é certa: não é pequena a coragem de Pierre Bayard ao revelar que nunca terminou de ler “Ulisses”.
Inspirado por ele, confesso que eu também não. Comecei algumas vezes, por caminhos diversos: no original, na tradução de Antonio Houaiss, na de Bernardina Pinheiro. Nunca me pareceu que valesse a pena prosseguir. Prefiro “Dublinenses”. Por quanto tempo devo ficar ajoelhado no milho?
E você, qual é aquele livro obrigatório que nunca leu?"
Fonte: Sérgio Rodrigues (nominimo)
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3 comentários:
Se eu começar minha lista, vai demorar a acabar. []s
Todo ano juro que vou ler "A Montanha Mágica", do Thomas Mann, e reler "Os Sertões", do Euclides da Cunha, e não consigo. Estão na minha estante; novinhos.
Abandonei Ana Karenina quando faltavam 100 páginas. Fiz o mesmo com a biografia/entrevista do Fidel.
abs,
Rafael Roldão
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