Luta entre o bem e o mal?
Paulo Cezar Guimaraes
(Publicado no Jornal de Debates - www.jornaldedebates.com.br)
É que nem aquele antigo anúncio da lâmina de barbear: o primeiro chorou por causa da boneca Maria Eugênia; o segundo era um "cowboy" em cima do muro; o terceiro tinha fama de 171, mas era perseguido na casa; a quarta era uma babá; o quinto um
homossexual assumido; a sexta uma humilde dona de casa e o sétimo... tchan, tchan, tchan, tchan...
Vai ser um bonzinho ou uma boazinha? Afinal, "Brasileiro é tão bonzinho", como diria aquela também antiga personagem da Kate Lyra, mulher americana do compositor Carlinhos Lyra.
Kleber Bambam, Rodrigo, Dhomini, Cida, Jean e Mara tinham, quase todos, o perfil dos "coitadinhos, pobrezinhos ou perseguidos" que muitos criticam, mas que grande parte das pessoas que assiste - e, principalmente, vota - no Big Brother Brasil escolhe como vencedores do programa. Que nem na Inglaterra, há poucos dias, quando a atriz indiana Shilpa Shetty, apesar de atacada pelo preconceito racial dos colegas da casa, venceu o programa com 63% dos votos dos ingleses, derrotando 13 concorrentes, depois de provocar a saída de um patrocinador.
No primeiro Big Brother Brasil, um dos grandes concorrentes do "dançarino" Kleber Bambam, que sonhava em ser Paquito da Xuxa e chegou a participar do programa do humorista Renato Aragão, foi o artista plástico Adriano, o Didi, que dizia pros
colegas que ia votar numa pessoa e na hora h mudava o voto, diante dos telespectadores. Chegou a trabalhar como "repórter" na televisão, mas nunca mais se ouviu falar dele. Bambam de vez em quando aparece em programas populares.
O BBB 2 ficou famoso pelo casalzinho romântico formado pelo "cozinheiro" Thyrso que amava a estudante Manuela, que tinha uma queda pelo Fabrício. A jogadora de futebol Tina deu uma de Júnior Baiano e baixou o sarrafo no pessoal da casa. Foi jogada pra escanteio. O vendedor Jefferson levou a vendedora Tarciana pra debaixo do edredon e ficou feliz com o prêmio de "Consolação". O "cowboy" Rodrigo, que já tinha ficado com a Thais, ficou na dele e levou a bolada de 500 mil.
A terceira visão do Big Brother foi agitada. Começou com a desistência de um participante que se encantou por uma miss casada, que perdeu cetro e coroa. Foi substituído por um carioca/teresopolitano cheio de tatuagens com nome de britânico e comportamento inverso. As chamadas "panelinhas" com combinação de voto se consolidaram nesse programa. Quem ganhou foi um assessor parlamentar, mineiro nascido em Goiás, com dois processos por agressão. Sobreviveu a quatro paredões em 10 e ficou com a "gostosa" Sabrina, que hoje participa do programa "Pânico na TV", mostrando seus "dotes" artísticos.
Dois "pobrinhos" disputaram a quarta edição de um dos programas mais agitados da série: a babá Cida e o contínuo Thiago. O programa tinha de tudo: um acusado de envolvimento com drogas, uma frentista que arrebentou o tímpano e o gosto dos telespectadores ao assassinar a gramática e a música "We are the world" (ou "Iarnuou", no inglês da moça); um lutador "moicano" cuja principal característica era dar pontapés num boneco, uma lutadora sarada e de voz grossa e uma argentina assanhada e de voz estridente. Ganhou a babá que ficou "viciada" em beber prosecco.
Quando todo mundo pensava que já tinha visto de tudo na edição anterior, surgiu o BBB 5. Um goleiro com mais de 2 metros de altura chorou, uma fofoqueira profissional foi eliminada com votação recorde, uma bailarina ficou gorda e, no dia da eliminação de um médico que comandava uma "tropa de choque" que combinava as votações, o Brasil comemorou como se fosse a vitória da seleção de futebol. Teve gente soltando fogos.
Uma nordestina gaiata chegou a participar de um programa de tv, mas nunca mais se ouviu falar dela. Quem ganhou foi um jornalista e professor gay assumido. Quem faz sucesso hoje é a loura brejeira Grazi, destaque na novela das 8, que começa às 9.
Outra "pobrezinha" ganhou o BBB 6 numa disputa com um pobrezinho gordinho. Tinha ainda um monge que não tomava banho e um galã que conquistou o coração da mais bela da casa, que virou "sonho de consumo" de um trapalhão que não lavava a cueca. Claro que a baiana Mara ficou com a grana. O gordinho Tinho ficou com o segundo lugar e até se ofereceu pra posar nu. Mas pelo jeito ninguém se interessou pelos "dotes" do simpático funcionário de um supermercado carioca. A pobrezinha motogirl ficou com fama de "leva-e-traz", em alusão à sua rofissão, seu nome e sua fama de fofoqueira.
"Falsa caipira", "duas caras", "pobre de araque". A sacoleira Íris, ou Siri, como é chamada pelos colegas de casa, parece ter comovido o público do programa, chorando e até ameaçando fazer uma greve de fome. Sobreviveu ao seu primeiro paredão e permaneceu na casa. E tudo indica que é uma das favoritas do programa. É "apadrinhada" por um dos concorrentes fortes (nos dois sentidos) e atacada pela maioria da casa. Do jeito que o telespectador gosta. Só não chega ao final se fizer uma besteira muito grande ou se alguém descobrir um "caseiro" ou um Roberto Jefferson no seu passado.
Afinal: o Big Brother Brasil é uma luta entre o "BEM" e o "MAL", como canta Paulo Ricardo no início do programa? É uma prova concreta de que pra vencer na vida é preciso enganar ou eliminar o outro? Ou, na realidade, é a confirmação de que o Pelé estava certo quando disse que brasileiro não sabia votar?
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