quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Más pessoas não podem ser bons jornalistas, afirma o polonês Ryszard Kapuscinski

"Quem não serve para o ofício?"

"O texto, achei no ótimo blog da repórter Simone Iwasso. É sobre um grande jornalista, o polonês Ryszard Kapuscinski, morto no último dia 24 de janeiro, que definiu assim a profissão:

Creio que para exercer o jornalismo, antes de tudo, há de ser um bom homem ou uma boa mulher: bons seres humanos. Más pessoas não podem ser bons jornalistas. Se se é uma boa pessoa, se pode tentar compreender as demais, suas intenções, sua fé, seus interesses, suas dificuldades, suas tragédias. E converter-se, imediatamente, desde o primeiro momento, em parte de seu destino. É uma qualidade que a psicologia denomina “empatia”. Mediante a empatia, se pode compreender o caráter próprio do interlocutor e compartilhar de forma natural e sincera o destino e os problemas dos demais. Nesse sentido, o único modo correto de fazer nosso trabalho é desaparecer, esquecermos de nossa existência. Existimos somente como indivíduos que existem para os demais, que compartilham com eles seus problemas e tentam resolvê-los, ou ao menos descrevê-los. O verdadeiro jornalismo é intencional, a saber: aquele que fixa um objetivo e tenta provocar algum tipo de mudança. Não há outro jornalismo possível. Falo, obviamente, do bom jornalismo.
A definição é perfeita. Mas em tempos de jornalismo online e interatividade, ainda dá conta dos nossos imensos desafios?

Jornalistas foram treinados para terem controle total sobre o que escrevem – da apuração da informação até a publicação. Com as novas tecnologias, o jornalismo online está experimentando o conceito de “obra aberta”, na qual o resultado final inclui a participação do leitorado.

No entanto, essa relação não pode nem deve ser de subordinação. Uma das nossas funções é buscar aquilo que o leitor ainda não viu. Se nos limitarmos a agradá-lo, estaremos condenados ao simples desaparecimento. Mesmo assim, o ideal de um espaço jornalistíco interativo – e o blog é só o exemplo atual, porque podem haver outros – é o da relação horizontal. Ideal utópico, como demonstra a prática".

Fonte: Carla Rodrigues - Nominimo

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