quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Crônica (Tá na hora de rever os nossos conceitos?)


Tá na hora de rever os nossos conceitos?
Paulo Cezar Guimarães

Tenho um amigo envergonhado. O apelido diz tudo: Família. E envergonhado todo mundo sabe como é: não precisa explicar. Outro dia, para fazer uma brincadeira com uns amigos, resolveu ir - sozinho, claro - a uma sexy shop, na Tijuca, tradicional e conservador bairro do Rio.

Contou-me, surpreso, e perguntou:
- Você imaginou que um dia a Tijuca teria uma sexy shop?.

Estranhei.

- Mas você numa sexy shop? Não acredito!Acreditei depois, quando ele contou que, antes de decidir entrar na loja, esteve outras três vezes no local e não teve coragem de entrar. Ficou olhando a vitrine, disfarçando, mas não passou da porta, discretamente entreaberta.

- Acho que vou seguir a propaganda da televisão: tá na hora de rever os meus conceitos - brincou.

Família conta que, quando era criança e morava no Grajaú, um bairro mais tradicional ainda, a mãe costumava pedir-lhe para ir à farmácia comprar absorventes higiênicos. Naquela época, o Modess vinha embalado num papel cor de rosa (parece que ainda vem, pois ele nunca mais foi comprar). Chegava de “fininho”, chamava o balconista no canto e fazia o pedido. Mas não tinha jeito, tinha sempre um balconista indiscreto que gritava: “Fulanôôôô, maaaanda uma caixa de Modess aqui pro nosso amigo!“.

- Acho que foi por causa disso que fiquei traumatizado.

Lembro-me ainda daquelas pessoas que vão à banca de jornal comprar uma revista de sexo e têm vergonha de pedir ao jornaleiro. “Me dá o almanaque do Tio Patinhas, a Placar, a Contigo, a Veja, a Pais e Filhos e também aquela ali” (e aponta para a Private).

Mas, voltando ao meu amigo na sexy shop, a vendedora, uma senhora de uns 50 anos presumíveis, toda gentil, desejou-lhe boa tarde e perguntou se ele queria alguma coisa em especial. Quase saiu correndo.

- Estou só dando uma olhadinha, disse.

Percorreu a prateleira das calcinhas eróticas, passou rapidamente, como se fosse o Ronaldinho Gaúcho, pelos chamados “consolos”, entusiasmou-se pelas bonecas infláveis, mas assustou-se com os preços e se divertiu com os chocolates em forma de pênis.

“Jamais morderia um treco desses!”, pensou e sorriu.

Resolveu levar um dvd erótico, atraído pelo título, “Cheap Shot”, e uma micro-calcinha amarela. Na hora de se dirigir ao balcão para pagar, a vendedora, que atendia um rapaz de mais ou menos 20 anos, ofereceu alguns produtos.

“Tem esse perfuminho aqui que...”

“Não, muito obrigado”, refugou.

“Tem essa pomadinha aqui que prolonga a ereção. Quer experimentar?”.

Mais à vontade, resolveu entrar no jogo.

“Ih, minha senhora: preciso disso não. Se eu tomar um treco desses vou ficar uns quatro dias seguidos de pinto ereto”.

A dona riu, e ele não acreditou no que tinha dito. Antes de sair da loja, chamou a vendedora no canto e sussurrou no ouvido dela:

- Não fique impressionada comigo não. Vou usar com a patroa. Estamos comemorando 20
anos de casado e sabe como é, né?

Quando estava saindo da loja, deu de cara com a sogra.

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