domingo, 21 de janeiro de 2007

Clipping do blog (Deu no Noblat, deu no Estadão, mas deu mesmo no New York Times)



Jornalistas 24 horas
David Carr
Como muitos jornalistas do meio impresso moderno, tenho um blog. Para os que ainda não têm um blog, pensem num grande Labrador marrom: amigável, divertido, não muito inteligente, mas exigindo constantemente sua atenção. Ter um blog (o meu, que por acaso é sobre a corrida do Oscar, está em carpetbagger.blogs.nytimes.com) me torna acessível e próximo, amistoso e envolvido com os leitores. Talvez envolvido demais.

Há um comentarista habitual de meu blog e de outros no New York Times (NYT), "Mark Klein, M.D.", um senhor idoso, polido, com muitas opiniões e tempo livre. Ele pode ser um pouco ranzinza, politicamente incorreto, beirando a provocação, mas sempre escreve como se fôssemos amigos. E talvez sejamos. Há dias ele enviou uma nota afirmando que viajaria para Israel e eu não deveria interpretar seu repentino silêncio como sinal de que perdera o interesse por mim. Como se me importasse.

Mas eu me importei. De certo modo, senti sua falta. Escrevi-lhe um recado e lhe telefonei, em Israel, para conversar sobre ele estar fora da rede (da minha em particular). "É bom ter notícias suas. Também senti sua falta", respondeu-me, como se fosse a coisa mais natural do mundo. "Há uma intimidade na troca de elétrons - quase como um romance online – que significa que você é uma pessoa real para mim", disse ele. "Já tínhamos um variado bate-papo."

Os bloggers independentes podem rir à vontade da postura arrogante da grande mídia, mas eu e outros no NYT nunca estivemos tão em contato com cada capricho enfaticamente postado pelos leitores. Não só estou atento ao que as pessoas dizem, como me importo. Às vezes questiono se me importo a ponto de negligenciar outras coisas, como, oh, meu trabalho. Teclar no blog é sedutor de uma forma que um prazo de fechamento de jornal nunca será. Quando acabo de inserir notas, moderar comentários e fazer links, percebo que o tempo voou. Provavelmente eu deveria ter feito uns telefonemas para a coluna da semana que vem, mas, em vez disso, talvez eu escreva, ah, sobre blogs.

"Vivemos a maior expansão da capacidade expressiva da história da raça humana", diz Clay Shirky, professor-adjunto de Telecomunicações Interativas da Universidade de Nova York. "E não seria uma revolução se não houvesse perdedores. A velocidade de conversação é um lado positivo, mas parte da reflexão, recapitulação e expressão cuidadosas se perdeu." Dou uma olhada na seção de comentários de meu blog e ele continua: "Há um prazer obsessivo, em configurar e observar isso, uma constante medida de capital social."

Sempre houve um meio de retorno no jornalismo - cartas ao editor, telefone e, mais recentemente, e-mails. Mas num blog o retorno é instantâneo. O lado bom de fazer jornal era que, em dado momento, a matéria estava pronta e o autor ia para casa. Agora, conectado em meu computador, tornei-me uma espécie de corretor negociando a cada segundo meu mais precioso produto: eu mesmo. Quanto gostam de mim agora? E quanto a... agora? Humm... Agora?

Josh Quittner, editor da Business 2.0, recentemente pediu a seus redatores que criassem blogs, e ele tem um também. Encorajou-os com (pequenos) bônus baseados no número de visitantes, depois que um de seus mais destacados repórteres, Om Malik, deixou a revista para cuidar de seu popularíssimo blog (Malik ainda escreve uma coluna na revista). "Não quero que isso aconteça de novo aqui", explicou Quittner. "Vivemos um momento extraordinário", disse ele, no meio de uma semana em que o falatório sobre o novo telefone da Apple impulsionava as visitas ao site. "É como em Pinóquio, quando eles estavam na barriga da baleia e famintos. Acabaram percebendo que deviam lançar uma linha de pesca e começar a puxar todo tipo de atum." Segundo ele, "um dos erros que cometemos no jornalismo foi achar que dar às pessoas as informações que elas querem e de que precisam é complacência".

O desejo de se conectar é um impulso natural, mas pode levar a mau comportamento de parte dos redatores. Às vezes me sinto um tanto solitário em meu blog sobre o Oscar. A solução: ataco um favorito dos fãs, Borat, e centenas de comentaristas furiosos aparecem. Ei, eu tenho leitores.

O índice de interesse em sites também está mudando os jornais. No do NYT, a lista dos que recebem mais e-mails passou de mera curiosidade interna a algo tão relevante quanto conseguir espaço na primeira página. A lista pode ser maravilhosamente idiossincrática - dia 12, uma bobagem publicada há seis meses sobre o uso de adestramento de animais em maridos (O que Shamu me ensinou sobre um casamento feliz) ressurgiu ao lado da reflexão de Thomas Friedman sobre o plano do presidente de enviar mais tropas ao Iraque.

Mas em algum momento essas avaliações (que repórteres de jornal, ao contrário de seus colegas da TV, nunca tiveram de enfrentar) começarão a afetar o critério das notícias. "Pode-se deplorar a crassa tomada de decisões motivada por tais avaliações, mas é impossível evitar o fato de que as visitas a sites são cada vez mais moeda corrente", diz Jim Warren, co-editor-executivo do Chicago Tribune.

Quando este for o caso, o que acontecerá com as outras qualidades, "reflexão, capacidade de recapitulação e expressão cuidadosas", apontadas por Shirky?

"O melhor da Web - ter muitas informações sobre como as pessoas a usam – é também o pior", diz Jim Brady, editor-executivo do Washingtonpost.com. "Podemos enlouquecer com tanto material. A notícia criteriosa tem de ser determinante e a home page do site não pode virar concurso de popularidade."

Meu referendo pessoal continua, embora sem o dr. Klein, por enquanto. Ele planeja, ao voltar, testar o terreno para uma campanha presidencial com a plataforma de mais direitos para os pais sem custódia dos filhos. Isso soa ao tipo de hobby que pode reduzir o tempo que ele gasta comentando meu blog. "Não, não acho que eu vá parar", disse ele. "Acho que, se tivesse sucesso na disputa pela Casa Branca, continuaria a blogar e comentar."

Não posso evitar um certo orgulho. Eu podia continuar, mas o resultado da premiação da Broadcast Film Critics acaba de chegar e preciso atualizar meu blog. Nada como o presente.

David Carr é colunista do jornal The New York Times

Um comentário:

Anônimo disse...

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