Mais democracia, não menos
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - A prisão do bicheiro Aílton Guimarães Jorge pode servir de excelente ajuda-memória ao leitor que, desesperado pela insegurança, pela corrupção e outros problemas mais, começa a clamar para volta dos militares.
Quem é Guimarães, apelidado de "Capitão"? Foi, sim, capitão. Do Exército brasileiro. Destinado ao DOI-Codi, o brutal braço repressivo do regime militar, um dado dia, em vez de apreender um contrabando, passou a dedicar-se a ele e, em seguida, a outras atividades ilegais, já fora do Exército.
Claro que qualquer pessoa, em qualquer profissão, pode um dia tomar o caminho do crime. Mas o que funcionou como poderoso estímulo ao "capitão" Guimarães foi a licença dada pela ditadura para que o aparelho repressivo (Forças Armadas e polícias) prendesse arbitrariamente, torturasse livremente, matasse e/ou fizesse desaparecer cidadãos. Quando se permite ou até se estimula a violação da lei, em nome da defesa do Estado, fica implícito que agentes do Estado podem violar outras leis para proveito próprio. É assim que se fabricam "capitães" Guimarães, foi assim que se ampliou a corrupção no aparelho policial em geral. Mais detalhes -e abundantes detalhes- estão nos imperdíveis livros de Elio Gaspari sobre o ciclo militar.
Claro que a insegurança e o crescimento do crime organizado não se devem exclusivamente a esse fator. Mas é igualmente claro que, em matéria de insegurança, a ditadura é parte do problema, jamais parte da solução.
É verdade que a democracia não resolveu o problema. Ao contrário, foi durante a sua vigência que ele se tornou mais agudo. Mas a resposta não pode ser o retrocesso. A resposta é mais democracia, não menos democracia. Mais democracia envolve mais envolvimento do cidadão, hoje anestesiado. Dá trabalho, mas não tem substituto.
Fonte: Folha de S. Paulo
domingo, 15 de abril de 2007
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