quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Marcha de um Povo Doido, artigo no Jornal de Debates

A Marcha de Um Povo Doido!
Paulo Cezar Guimarães
Publicado no "Jornal de Debates"
(www.jornaldedebates.com.br)

O que essa gente do high-society faria com aquele “pivete” do Chico Buarque? Mandaria o cara para a cadeia, criticaria as ONGs que viessem defendê-lo e participaria da passeata do “Cansei”?

“Confesso: matei a Dana de Teffé e muitos mais se ´ocê quiser”, como diria o saudoso Gonzaguinha na célebre “A marcha de um povo doido”.

Dei “sardinha” na bunda do “pele” da escola, botei espelhinho no sapato para ver a calcinha da professora, olhei pelo buraco da fechadura para admirar uma vizinha "balzaqueana" amiga da minha mãe tomando banho, troquei a posição do saleiro no boteco para sacanear um amigo, mas foi tudo brincadeirinha de criança perto do que esse pessoal fez com o mendigo e com a doméstica.

Acho também uma grande babaquice essa de jogar ovos da janela. Não tenho a mínima idéia de quanto custa uma dúzia de ovos. Dou uma pesquisada rápida no google e descubro que custa entre R$1,30 e R$ 1,70. Não sei se são valores atuais, mas também não vou ficar perdendo tempo fazendo esse tipo de consulta. O que eu garanto é que prefiro muito mais um ovo frito na frigideira do que cru na cabeça de inocentes. Coisa de pobre para essa gente bronzeada que mostra o seu valor, eu sei.

Alguém pode estar aí calado, matutando e indagando: "Calma, baby, calma. Take it easy, brou!". Mas se alguém faz esse tipo de coisa comigo, eu "prendo e arrebento", como diria aquele ex-presidente milico que preferia cheiro de cavalo ao cheiro de povo. "Comigo não, violão, pimenta no fiofó dos outros é refresco", como diria o meu avô obsceno. Ou alguém acha uma boa aquela gororoba de clara e gema no cabelo? E o futum? Haja shampoo!

À medida que eu vou escrevendo este texto, lembro que eu não sou nenhum santo do pau oco. Hoje eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando, chamando o leitor de “tio”, mas estou aqui pedindo a atenção de vocês.

Lembro de uma “maldadezinha” que fiz quando era mais jovem. Aliás, duas. Eu fui cúmplice de uns amigos adolescentes que botaram um cigarro aceso no focinho de uma mula - ou seria um burro? Talvez um jegue. Em princípio, até achamos que o pobre bicho realmente estava fumando - e tragando (ao contrário do FHC); mas ficamos preocupados quando ele engoliu o cigarro aceso.

Em uma outra ocasião, um amigo dormiu na areia da praia, e, ao acordar, estava coberto com jornais e rodeado de velas acesas. Juntou gente em volta, achando que o cara estava morto. Imaginem a cena quando ele acordou e saiu correndo e espinafrando todo mundo que estava em volta! José Mojica Marins, o "Zé do Caixão", assinaria o roteiro.

Tudo isso é “pinto” ou "canja de galinha" perto do que fizeram com o índio, com a doméstica e até com os ovos atirados pela janela. Mas, como se diz na linguagem popular, “perguntar não ofende”. O que essa gente do high-society faria com aquele “pivete” do Chico Buarque que “arromba uma porta, faz ligação direta, engata uma primeira, dobra a Carioca, olerê, desce a Frei Caneca, olará, se manda pra Tijuca, na contramão; sobe no passeio, olerê, pega no Recreio, olará e não se liga em freio nem direção”? Mandaria o cara para a cadeia, criticaria as ONGs que viessem defendê-lo e participariam da passeata do “Cansei”?

E pensar que um dia o Rei Roberto Carlos levou um tremendo tapa no cinema só por causa da história de um simples beijo que fazia splish splash!

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