sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Artigo: "A verdadeira história do homem de Pau Pequeno e sua organização terrorista"


A verdadeira história do homem de Pau Pequeno e sua organização terrorista
Osama bin Laden não é uma bicha devassa de pau pequeno e deformado que torce pro Arsenal de Londres e que teria encomendado a morte de David Beckham, astro do futebol inglês.
Paulo Cezar Guimarães
(Publicado no "Jornal de Debates" - www.jornaldedebates.com.br)

Quem ler apenas o título pode pensar que o texto é sobre Mané Garrincha e que o autor trocou o nome da cidade e chamou o Botafogo de organização terrorista. Nada disso. O objetivo é dar uma pequena idéia sobre Osama bin Laden e a Al-Qaeda. Osama não é uma bicha devassa de pau pequeno e deformado que torce pro Arsenal de Londres e que teria encomendado a morte de David Beckham, astro do futebol inglês, hoje jogando pelada nos Estados Unidos ao lado da sua bela mulher.

Estranho? Endoidei de vez? Ainda não. Tal afirmação está na página 37 do recém-lançado, no Brasil, livro “Al-Qaeda – A verdadeira história do radicalismo islâmico” (Jorge Zahar Editor, R$ 34,90 - sem frete – preço mais barato na Internet), do jornalista inglês Jason Burke (http://en.wikipedia.org/wiki/Jason_Burke), que cobriu por uma década o Oriente Médio e o sudoeste asiático. Ou seja, esteve lá “ao vivo, do campo de batalha”, parafraseando o título de outro correspondente de guerra, um pouco mais famoso, Peter Arnet, que cobriu muitos outros conflitos, como a Guerra do Golfo.

Para aqueles que têm pouco tempo para se dedicar à leitura de livros e que gostam de passar os olhos em orelhas e contracapas nas boas casas do ramo (no caso, livrarias), como diria o meu avô comerciante no subúrbio do Rio, dou uma força e um adianto, como se falava antigamente no Grajaú. A editora informa na contracapa que “Quando se pensa na Al-Qaeda, imagina-se uma organização altamente sofisticada e espalhada pelo mundo e sob o comando central de Osama bin Laden – errado. (...) a Al-Qaeda é meramente um rótulo dado pelo Ocidente a um fenômeno da militância islâmica muito mais amplo, complexo e perigoso. Entendê-lo é compreender a verdadeira natureza da ameaça terrorista atual”.

Os fãs de Noam Chomsky, como este que escreve essas maltraçadas, podem ir correndo comprar. “Uma leitura essencial. O estudo mais esclarecedor que conheço sobre este tema. Traz observações profundas sobre a militância islâmica”, garante o lingüista e ativista político. William Dalrymple, colega do autor no jornal “Observer”, garante: “Este é o guia mais fidedigno e perspicaz já publicado para o entendimento da ascensão do islamismo militante”. Para os que acham que William está puxando o saco do amigo, leiam o que publicou o "The Washington Post", aquele famoso jornal do "Caso Watergate", que revelou ao mundo a dupla de jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein: “Esse jornalista jovem e entusiasta produziu uma importante contribuição à literatura crescente sobre a Al-Qaeda”.

Não me proponho neste pequeno texto, que já está ficando grande, a fazer uma resenha literária. Longe disso. Apenas dar uma dica sobre o que andei lendo ultimamente sobre a Al-Qaeda e Bin Laden.

Antes de falar um pouco mais sobre o que me chamou a atenção no livro, destaco para quem não leu a entrevista de Jason Burke para o jornal "O Globo", de 11/09/2007 (http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2007/09/11/297674667.asp), com o título que praticamente diz tudo: “Osama bin Laden é hoje um rosto no cartaz da jihad”. O subtítulo: “Jornalista britânico afirma que o terrorismo islâmico se tornou uma força descentralizada e difícil de ser detida”. No “lide” da entrevista: “(...) a Al-Qaeda se tornou mais uma ideologia do que um grupo efetivo, e Osama bin Laden, uma imagem inspiradora. (...) o radicalismo é hoje mais amador, caótico e descentralizado, mas também mais difícil de ser combatido”.

Voltando ao livro, as primeiras linhas do primeiro capítulo respondem, em parte, a pergunta do nosso debate: “Então o que é a Al-Qaeda? Pergunte a ocidentais, mesmo bem-informados, o que pensam ser a Al-Qaeda e muitos lhe dirão que esse termo descreve uma organização terrorista fundada há mais de uma década por um fanático religioso saudita extremamente rico que se transformou numa rede incrivelmente poderosa composta por milhares de homens treinados e motivados que estão à espreita em todas as cidades, em todos os países, em todos os continentes, prontos para cumprir as ordens de seu líder, Osama bin Laden, matando e mutilando em defesa de sua causa. A boa notícia é que essa Al-Qaeda não existe (...)”.

Querem saber qual é a má? Não digo. Comprem o livro. E saibam que Osama bin Laden, que já foi chamado por agentes do FBI de “Osam bem Laden” e pela CIA de “Usama bin Laden”, num tempo em que a Al-Qaeda ainda não estava com essa bomba toda. Bill Clinton, aquele do charuto, chamava a organização de “rede de Bin Laden” e não de Al-Qaeda e tinha “xeque” da pesada que nunca tinha ouvido falar do nome.

Mas ninguém pense que Bin Laden é igual àquela caricatura mostrada pelos comediantes do “Casseta e Planeta” na rede do plim plim. Nada disso. Jason Burke garante que “Bin Laden é um ativista com um senso muito claro do que deseja e de como espera alcançar seus objetivos”. Com ele, o buraco continua sendo mais embaixo, inclusive o da caverna onde se esconde. Com ou sem pau pequeno e deformado.

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