sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Não contem pra ninguém que botei um texto do Sarney no meu blog...


...mas o cara está escrevendo em favor dos livros.

O livro resiste
JOSÉ SARNEY


ELIO GASPARI , há alguns anos, escreveu que duas coisas jamais desapareceriam: o livro e o jornal. Eles venceriam todas as tecnologias de informação e com elas disputariam o seu espaço. Li, ontem, em Clóvis Rossi, que a crise dos jornais fez parte da agenda do Fórum Econômico de Davos, com a conclusão de que ainda não é hora do suicídio. Eterna vida.
Com o livro nesta cesta, creio que nenhum dos dois sumirá do mapa. O aquecimento global pode levantar o nível dos mares, e a água invadirá as cidades, mas salvaremos os livros, se não pudermos salvar os prédios das bibliotecas.
É que o livro e o jornal são tecnologias avançadíssimas. A história só existe a partir do livro. Sem Homero, cego, descrever a Guerra de Tróia, nada saberíamos sobre a Antigüidade. Relembro que graças a "Ilíada" Schliemann descobriu Tróia.
Há 40 anos comecei a luta, isolado, para o Brasil iniciar um programa de incentivos fiscais para a cultura, minha causa parlamentar. Depois de apresentar quase uma dezena de projetos, tive a felicidade de, como presidente da República, fazê-los realidade.
Mas ainda precisamos proteger o livro. Apresentei um projeto, já sancionado, de Estatuto do Livro e outro para a criação de um fundo para a difusão da leitura e a proteção ao livro. Precisamos socorrer as bibliotecas, disseminá-las por todos os municípios do Brasil.
Gilberto Dimenstein nos conta de experiências simples para resolver grandes problemas. Dá um exemplo: a bibliojegue, que é uma biblioteca ambulante colocada em jumentos distribuindo livros na área rural. No Amapá, é um sucesso a Arca do Livro. Um baú cheio de livros levado a localidades isoladas na floresta, onde o livro é recebido como rei.
Na última eleição, cheguei a Calçoene, um pequeno município quase na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. O que me pediram? Estradas, hospitais, casas? "Senador, mande livros para nós.
Livros!" Meu coração doeu, e dessa dor quero comungar com todos os meus leitores.
O livro tem sido muito perseguido. Queimaram-se livros por religião, por ideologia, por preconceito. Queimam-se bibliotecas para acabá-lo como propulsor de idéias. Não foi só a biblioteca de Alexandria; mas a Corvina, fundada pelo rei Matias Corvino em 1476, na Hungria, a Fatímida, no Egito, com mais de cem mil livros, e milhares e milhares delas. Livros isolados, não sei quantos: bilhões.
Mas ele resiste e resistirá, com o jornal, que é como seu derivado.

Fonte: Folha de S. Paulo

7 comentários:

Anônimo disse...

Será que os calçoenenses escutados pelo atento, perseverante e aguerrido representante do povo do Amapá no Senado da República, embora faça papel de dublê de coronel maranhense, sabem da existência da divindidade, a santa eletrônica que traz web e internet para dentro de casa? Será que ele falou para as calçoenensas que a luz para todos do Lula poderá algum dia chegar lá? Ou preferiu deixar todas na ignorância — uma das artimanhas mais usuais no exercício do poder – e prometeu uma doação de livros que até eu, se ele mandar o carro do senado aqui – aquele carro com motorista que nós contribuintes pagamos e ele usufrui até pra levar a dona Marl na manicure – tenho toda disposição de doar. Mas, veja bem! Ele é colunista da Folha e toda sexta-feira tem de mandar um texto. Ai, que preguiça! E, aí, o papel aceita tudo. Um abraço.

PC Guimarães disse...

O texto que publiquei do Sarney é apenas um texto que o "papel" aceitou, como vc mesmo disse, mas, como dói.
Viva Drummond!
abs
Obrigado pela presença, Barão.

Anônimo disse...

Professor Paulo Cezar Guimarães,

Estou deveras chocada com o fato de o senhor ter tirado do ar o texto do jornalista Clovis Rossi sobre o futuro do jornalismo impresso. À exemplo desta postagem do defectível Sarney, o senhor enaltecia o jornalista da Folha por estar na defesa desse meio de comunicação jurássico.
Não aceito ser censurada. Nunca. Por este motivo, volto a registrar a mesma pergunta:
"Não se estabelece uma grande contradição a defesa de meios de expressão jornalística jurássicos neste moderno e revolucionário veículo que é a internet?
Por favor, professor. Responda a minha indagação!
a) uma aluna atenta

PC Guimarães disse...

Rosana
1) Eu não tirei do ar o texto do Clóvis Rossi. É que entraram "posts" novos e ele saiu da "primeira página". É só vc ir na lista de assuntos à direita (fundo verde) que vc encontra o texto.
2) E eu não concordo que os jornais impressos sejam meios de Comunicação jurássicos. Diziam que a televisão acabaria com o rádio, que o VHS acabaria com o cinema e que o Botafogo não iria ser campeão. O rádio não acabou, o cinema também não e o Botafogo foi o grande campeão carioca do ano passado. E deve ser Bi em 2007.
Portanto...
Mas a senhora é muito bem-vinda aqui.

PC Guimarães disse...

Em tempo, senhora aluna Rosana: Sarney entrou porque o blog é democrático e costuma abrir espaço para assuntos de Imprensa e Literatura. Também não morro de amores pelo político do Maranhão eleito pelo Amapá e pelo escritor (sic) de "Marimbondos de fogo".
bjoca
pc

Anônimo disse...

Professor,

A questão não é de acabar ou não acabar. O senhor bem sabe que o jornalista Mino Carta fala, aos quatro ventos, que continua escrevendo na sua Olivetti. E repassa o papel para que os seus escravos gravem e possibilitem a veiculação de suas aleivosias na web.
Da qualquer forma, o senhor não respondeu à minha pergunta: não é uma contradição defender a existência de meios de comunicação jurássicos neste instrumento moderno que é a internet?
Pelo que o senhor me mandou estudar, a TV não acabaria com o rádio, mas se falava que eliminaria o jornalismo impresso.
Mas hoje estamos diante de uma revolução nas comunicações: a internet engloba vídeo, audio e texto. Através dela temos tudo somado. E o senhor não responde. Não é uma cotradição defender bibliotecas carregadas de papeis empoeirados, jornais fedendo à tinta de má qualidade que podem fazer mal à saude, neste instrumento revolucionário?

a) uma aluna atenta

PC Guimarães disse...

Já respondi dona Rosana, aluna atenta: tem pra todo mundo. Os jornais e os livros não vão acabar. Tem um guru cibernético que imaginou o fim dos jornais em 2040 (ou próximo disso). Vc acha mesmo que se os jornais fossem acabar o doutor Roberto Marinho, aquele santo homem que Deus o tenha, teria investido aquele tutu todo no Parque Gráfico de O Globo, em Caxias City? Os jornais precisam se adaptar, pois mexem com notícias; os livros devem continuar como estão. Lembre-se do fracasso dos web-books (sei lá como se escreve esse treco, sô!).
Tio Paulo