domingo, 28 de janeiro de 2007
Crônica: E já que falamos em Fátima Bernardes...
Tia Fátima é o caramba!
Paulo Cezar Guimarães
Tá certo: podem me chamar de tio. Já passei dos 40, tô meio barrigudo, ficando careca, e não perco um show do Roberto Carlos no Canecão. Mas chamar a Fátima Bernardes de tia é sacanagem. Eu não admito.
Explico: outro dia, conversando com uma aluna na faculdade, ela me disse que morava no Méier. Contei que a Fátima Bernardes, no início da carreira, quando trabalhava no Jornal de Bairros de O Globo, também morava no Méier. Sei disso, porque sempre morei nas proximidades do Grajaú e, antigamente, nas redações, quase todo mundo morava na zona sul; quem morava na zona norte era encarado como pingüim na praia. Mas, voltando ao papo com a minha aluna, ela me disse que “a Tia Fátima tinha sido professora de balé dela e que ...”
“Péra aí!” – exclamei. “Tia o quê?”, perguntei.
“Ué, Tia Fátima. Era assim que a gente chamava ela...”.
Olhei a moça de cima a baixo, constatei que tinha pouco mais de 20 anos, mas fiquei indignado assim mesmo.
“E a Tia Fátima, quer dizer, a Fátima nunca reclamou?”.
“Reclamar por quê?”
Fiquei revoltado. Com a garota, por achar normal chamar a Fátima de tia, e com a Fátima, por não reclamar.
Na faculdade, meus alunos, quando querem me gozar, me chamam de tio. Tio PC pra lá, tio PC pra cá.... É duro! Alguns desavisados, no começo do ano letivo, me chamam também de senhor. Pô: senhor é porteiro!
Outro dia, numa esquina de Ipanema, dei uma bronca num desses meninos que
vendem bala no sinal só porque ele veio com esse papo de tio.
“Qual é cara? Tá pensando o quê? Você parece mais velho do que eu. Sou da geração de Woodstock, fui hippie, tenho todos os discos do Jimmi Hendrix, Led Zeppelin, Pink Floyd e The Who. Você vai chegar na minha idade e quero...”.
Quase fui multado pelo guarda municipal que, de longe, acenava para eu acelerar, enquanto uma dezena de carros buzinava atrás de mim. Voltando, mais uma vez, à Tia Fátima, ou melhor à Fátima, fico imaginando a cena: Fátima chega com o carro no estacionamento e o guardador, um negão de dois metros de altura, barba cerrada, camisa do Flamengo, sandália 43, pergunta:
“Tia: posso tomar conta?”
Se ainda fosse o Tio William (Bonner)...
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6 comentários:
Caro professor,
Não dissimule. É certo que os seus alunos e o baleiro do sinal o tratam de "tio" por serem gentis. Poderiam muito bem chamá-lo de coroa ou de vô?
O senhor não concorda?
a)uma aluna atenta
Ah se eu te pego na pauta! (rs).
Muito boa crônica senhor PC. hahahahahahaha
Amigo PC, não se aborreça com isso. Na sua idade pode ser perigoso...
A dona Rosana e o seu Ricardo até podem me gozar. Mas vc não, Tio Tião. Sua fotinha aí em cima revela que vc já é balzaqueano.
É cada um que aparece!
Balzaqueano, mas despreocupado. Tanto que já estou até dando a benção para os mais jovens. Não vá se aproveitar e querer beijar minha mão...
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