Deu na coluna do meu camarada Renato Maurício Prado que o Botafogo homenageará na próxima quinta-feira uma "seleção de cronistas alvinegros". Finalmente o Robertão Porto entrou na lista. Mas e o Carlos Eduardo Novaes? A diretoria esqueceu ou ignorou? Novaes, que de vez em quando presenteia o Blog com crônicas inéditas, ficou p... da vida. "Não se foi esquecimento ou sacanagem (sou um torcedor crítico)", escreveu meu Mestre. E, bem ao seu estilo, completou:
"Sei que o bom cabrito não berra, mas, nesse caso, não posso deixar de berrar: eu já torcia pelo Botafogo antes de o presidente Assumpção nascer. Taí a prova, anexa (ABAIXO), que vc pode aproveitar no seu blog e enviar para o Assumpção (não tenho o e-mail dele). "
Cheguei ao Botafogo pela porta dos
fundos. Morava no Flamengo, próximo ao Fluminense e meu pai torcia pelo
America. Saí desta encruzilhada graças ao “seu” Fernandes, um português gordo e
suado, porteiro-chefe do meu prédio, que fazia do Vasco sua religião.
Lembro
da primeira partida de futebol que assisti na vida. Ainda morávamos na Tijuca e
meu pai levou-me a Campos Sales para ver o America com seu endiabrado ataque –
Ranulfo, Dimas e Maneco – golear o Canto do Rio, um timezinho fuleiro de
Niterói.
Até hoje desconfio que o velho escolheu o jogo a dedo para me injetar
entusiasmo, sabendo que o America ia deitar e rolar. Ainda guardo minha foto
(amarelecida) aos dois anos de idade vestindo uma camisa do America que pelo
tamanho - “G” – mais parecia uma camisola.
Quando
nos mudamos da Tijuca para o Flamengo foi como se o America tivesse ficado do
outro lado do mundo (não havia os túneis). Meu pai deixou de ir aos jogos e a
distancia de Campos Sales tratou de arrefecer meu interesse (que nunca foi
grande) pelo clube. Com o coração vazio cheguei a balançar pelo Fluminense com
sua imponente sede a poucos passos do meu prédio. Uma circunstancia porem, que
nada tinha a ver com futebol jogou-me no colo do Botafogo.
Foi
na tarde em que o Botafogo conquistou o Campeonato Carioca de 1948 derrotando o
Vasco por 3 a
1. Escutei o jogo na portaria do prédio, no rádio do “seu” Fernandes que se
contorcia de dor a cada gol do Botafogo. Lembro como me deixou feliz, vê-lo
vencido e prostrado sobre a mesa da portaria ao final da partida. Aquele
homenzarrão indestrutível que nos repreendia, nos assustava e perseguia estava
ali aos prantos, batido pelo Botafogo, o Vingador! Às vezes penso que se “seu”
Fernandes torcesse pelo Botafogo eu me tornaria vascaíno. Cruz (de Malta)
credo!
A
partir dali só fez crescer minha paixão pelo Botafogo. Uma paixão que demorei
algum tempo para revelar à família. Não sabia como dizer a meu pai que o
America se tornara para mim um retrato na parede. Tive a mesma dificuldade que
experimentei, anos depois, ao me separar de minha primeira mulher.
O
Botafogo era uma espécie de amante oculta. Não foram poucas às vezes em que saí
de casa dizendo a minha mãe que ia a matine e pegava um bonde para me encontrar
às escondidas com o Botafogo em General Severiano. Mantivemos um romance
clandestino por mais de um ano, ainda que meu pai já desconfiasse de alguma
coisa quando me pediu para escalar o time do America e eu só soube dizer o nome
do goleiro. Ele estranhava o entusiasmo com que eu contava dos dribles de
Garrincha.
Chegou
um momento porem que não deu mais para esconder. Reuni a pouca coragem que
tinha diante de meu pai e disse-lhe de peito aberto que estava apaixonado pela
Estrela Solitária.
-
Como, meu filho? E o America?
-
Eu e o America agora somos apenas bons amigos.
-
Tem certeza que quer ficar com o Botafogo?
-
Absoluta!
-
Não quer pensar melhor? O Botafogo é um clube complicado, cheio de
superstições. Tem coisas que só acontecem ao Botafogo. Você é muito jovem para
virar sofredor...
Ele
ainda não sabia o quanto iria sofrer pelo America.
Rio julho, 2009."
27 comentários:
Exclusão injusta.
O Carlos Eduardo Novaes, sem qualquer dúvida, merecia estar no livro.
Carlos Eduardo Novaes e PC Guimarães. Dois esquecimentos imperdoáveis.
Abs
Pablo
Quem sou eu? Sou apenas um torcedor e jornalista e professor botafoguense; amigo de vocês. Não sou cronista, não sou ilustre. Mas Novaes é. Já estou entrando em contato com a assessoria do Presidente para saber o que aconteceu. Como repórter imparcial e cauteloso que sou, conversei com meu amigo Renato agora há pouco. Poderia ter ocorrido de ele não ter incluído o nome do Novaes. Mas ele me disse que botou todos os nomes que passaram pra ele. O esquecimento foi da diretoria do Botafogo. Algo há?
Mário: uma observação para não sermos injustos com o autor do livro. Me parece que o esquecimento foi na lista de homenageados. livro é outra história.
É isso PC.
O livro é um evento que será realizado no mesmo dia da homenagem.
A placa é que parece não ter incluído o nome do Novaes, conforme vc mesmo já confirmou com o autor da matéria.
PC,
Tem razão.
A falha é na placa em homenagem aos cronistas botafoguenses.
Tudo esclarecido. Cá entre nós, como isso aqui fica sossegado sem a presença dos nossos malas framenguistas (rs) e aquele mimimi de foguinho, títulos etc. Acho que vou passar a exigir o teste de novo. Aliás, o Xexéu não renovou o dele.
PC, a mulambada é importante para alavancar os índices de audiência do Blog...
E sem eles fica menos divertido.
Abs
Pablo
só acho que estão exagerando, Pablo.
E alguns botafoguenses também.
é fato que mando uns comentários ácidos sabendo que você, o Cacau, o Mario e o PC ficarão fulos da vida.O Leo fica só esperando o momento de impedir minha entrada em Portugal...
Mas até quando vocês exageram, fica na base da ironia.
Ou quando eu chamo de Faísca, etc...
Mas alguns comentários têm sido exagerados...
"(...) O Leo fica só esperando o momento de impedir minha entrada em Portugal... (...)".
Mata-me de rir.
Nenhum framenguista nesta postagem?!!!
Vou rir de quem?
Gol da Makaka.
PC,
Outra omissão grave: e o Paulo Mendes Campos, um dos maiores nomes da literatura brasileira e autor de belíssimas crônicas sobre o Botafogo? Este ano, inclusive, comemoram-se os cem anos de seu nascimento.
Att.,
Rodrigo.
Bem lembrado. E Fernando Sabino? Tenho tudo dos dois. Haja placa! Ou, segundo os framenguistas, PRACAS!
Enfim um post de comentários de torcedores especiais.
O Fábio Médici é vascaíno, mas tem habeas-corpus.
Agora também bateu aqui uma dúvida.
Carlos Drumond de Andrade, o maior, o magnífico, seria alvinegro ou a famosa crônica (o Sr. sabe o que é ser Botafogo?) se deu apenas pela visão do mais belo, do mais importante?
"Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho". Mané e o Sonho (1983)
Apesar disto, o Drummond era Vascaíno.
Ok Mario.
Como eu disse, gênio maior que foi sabia reconhecer seus pares.
http://misterfreitas.wordpress.com/2013/05/30/nascem-os-primeiros-seedorf-em-niteroi/
Conforme já falado antes, o Fogão, por compensação pelo imbróglio Engenhão, o Botafogo assinou por 2 anos com o consórcio Maracanã e presume-se ser contrato com condições mais favoráveis do que Fla/Flu, que foram obrigados a assinar por 35 anos levando a parte da formiga nos lucros dos jogos.
A conferir
http://www.fogaonet.com/noticia-em-destaque/botafogo-ja-assinou-contrato-de-2-anos-com-o-maracana/
PC
o critério foi jornalista esportivo
senão seria uma verdadeira convocação de seleção brasileira
Espero por vc lá na quinta.
Abs
Rafael Casé
Grande Rafael Casé, grande escritor, grande botafoguense, companheiro da Rádio Botafogo. Mais uma presença ilustre aqui. Fica o esclarecimento. E essa de dizer que seria uma verdadeira convocação da seleção brasileira é cruel com os pobres torcedores de times comuns.
PC . O Novaes foi durante algum tempo comentarista esportivo .
Pois é, Pizotti. Desculpas não colam. A diretoria deve ter algum problema com ele. E o pior é que a assessoria foi extremamente deselegante comigo. Enviei email e deixei mensagem no celular, após falar com o assessor que cuida de outra área, e não me deram retorno. Coisa primária. O Renato Maurício Prado, por exemplo, me ligou assim que recebeu o recado. É mais importante do eu, famoso e ocupado, mas me trata com respeito e profissionalismo. O mínimo que se espera quando alguém liga para alguém e deixa recado é um retorno. Não sou um chato que liga a toda hora. E não peço favores. Não preciso do Botafogo para nada. Sou apenas um jornalista e torcedor. Essa deselegância de não retornar ligações é uma atitude primária e condenável. lamento que o Botafogo faça isso. Apenas quis ouvir o outro lado. Este Blogueiro é jornalista e não é irresponsável. Foi o que fiz com o Renato ao checar com ele se a informação que ele tinha recebido era a mesma que ele publicou. Mas como no Botafogo tem dirigente que se refere aos blogueiros como "blogueiros de m...", tudo é possível.
Lamento. Mas vou continuar brincando aqui no Blog, mas de forma séria e profissional.
Boa quarta a todos.
Só um ps do pc: o Rafael Casé, repito, nada tem a ver com isso. Foi extremamente gentil ao comentar aqui. Deve ter passado a informação que passaram pra ele e fez questão de dividir com a gente.
Rafael Casé,
Esperamos no mínimo uma menção honrosa ao Mestre PC Guimarães lá na quinta.
Justas homenagens devem ser feitas em vida.
Mestre PC tem vaga nessa seleção fácil fácil.
Abs
Pablo
:-) Mata-me de rir, Pablo. Nessa seleção não pego nem a vaga de roupeiro.
Maravilha de dica, Chico da Kombi. Como alguém aqui tem que trabalhar, não postei ontem, Mas vou postar agora. Mesmo tendo que continuar a trabalhar.
Rafael Casé, querido. O Novaes não gostou muito do argumento de que placa só para jornalistas esportivos e mandou mais uma mensagem invocada pro pessoal do Botafogo:
"Valeu querido!
O Rafael não deve saber que comecei na Editoria de Esportes do JB, participei de mesas-redondas na TVE, apresentadas pelo Luis Mendes, fui comentarista na Sportv, recentemente mantive uma coluna no "novo" JB por mais de três anos e - para concluir -até o mês passado escrevia sobre esporte olímpico no site da GSN (Global Sports Network). Diz para ele, PC. Aproveita e diz a ele que meu querido Salim Simão nunca foi jornalista esportivo."
Tá dado o recado, Rafael. E eu aqui no meio desses dois queridos amigos. Daqui a pouco sobra pra mim (rs).
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