Ei Levir pede pra sair

Ilustração do meu amigo Tiburcio

Os mais antigos aqui talvez se lembrem dessa crônica sobre a porrada que levei do novo técnico do Galo Levir Culpi após um drible desmoralizante que dei nele.

Levir, como todos lembram, é o técnico que ajudou o Botafogo a voltar para a primeira divisão. Ficou conhecido também por causa de dois “gritos de guerra” que ouvia da torcida nos jogos do Botafogo: “Levir, bota o Almir” e “Levir pede pra sair”.

Pois bem. Eu e Levir temos uma história em comum.

Durante a pré-temporada da série B daquele fatídico ano, o Botafogo subiu para treinar na Granja Comari, em Teresópolis. Como estava passando férias na cidade, fui ver um dos treinos. Convidado pelo meu amigo e repórter Fábio Azevedo, hoje no canal ESPN, reforcei o time dos jornalistas numa pelada contra a comissão técnica do time.

Foi meu dia de glória no futebol. Botei camisa, short e meiões oficiais e entrei em campo me achando. Para quem nunca me viu jogar, tenho um estilo parecido com o do Paulo César Caju. Sou meia ofensivo, caio muito para a esquerda e tenho uma visão de jogo incomum. Túlio Maravilha teria feito os 1.000 gols há muito tempo se tivesse jogado ao meu lado.

Numa das jogadas, com o peito estufado e a cabeça ereta, parti para cima do Levir com a bola dominada. Como fazia e dizia Dadá Maravilha “fiz que ia e acabei fondo”. Levir nem viu a cor da maricota e tentou apelar pra ignorância (ou “inguinorança”, como diriam alguns framenguistas). Ficou a ver navios; ou melhor, como Teresópolis fica na serra, ficou a ver o Dedo de Deus. Só não entrei com bola e tudo porque tive humildade em gol.

Quando parti para comemorar, socando o ar, no melhor estilo do Rei, senti uma dor no dedinho mindinho. Até pensei em cair no chão para ser carregado de maca no carrinho. Mas não tinha maca e muito menos o carrinho. Fui parar no departamento médico e saí com o dedo imobilizado. Usei aquela tala durante semanas e, sempre que alguém me perguntava o que tinha acontecido, repetia a história, contada em detalhes, tim tim por tim tim:

“Foi o Levir Culpi no treino do Botafogo, na Granja Comari. Peguei a bola, parti para cima dele e…”.

Terminava sempre com um: “Não sei por que ele não pediu pra sair!”.