E você, secador? O que vai fazer se o Glorioso perder hoje pro Vasquinho?

Era pra ter postado ontem, mas alguém aqui tem que trabalhar. Que beleza o artigo do Torero publicado ontem na Folha.

E você? Curtiu também a derrota do Barça? E o arco-íris? Vai curtir a derrota do Glorioso - se acontecer - de que forma?

JOSÉ ROBERTO TORERO

Shirley Godzila

Atire a primeira pedra aquele que não gostou de ver Messi cabisbaixo como um reles mortal

Estes dias fui com minha sobrinha de três anos à praia e fizemos um grande castelo de areia (na verdade, eu ergui o castelo e ela se encarregou do poço real, um enorme buraco onde ela cabia sentada). Depois de concluir nossa obra (colocando um simbólico palitinho de sorvete na torre mais alta), o que vocês, nobre leitora e plebeu leitor, acham que a senhorita Catarina fez?

Acham que exclamou "Que lindo, titio!", que lançou-me um olhar embevecido ou que deu suspiros de emoção? Nada disso. O que ela fez foi sapatear em cima do castelo como se fosse uma mistura de Godzila com Shirley Temple, transformando meu esforço arquitetônico num montinho de areia.

Vendo Catarina espezinhar o castelo, comecei a pensar que há algum prazer misterioso na destruição. Para confirmar esta perversão, é só notar o olhar fascinado das pessoas durante a demolição de um prédio (sempre repetido pelas tevês em câmera lenta). É só ver a longa fila que se forma quando há um carro batido na estrada.

Todos querem ver a destruição, a estrutura arrebentada, a harmonia quebrada.

Pois este espírito sádico também pode ser visto no futebol. Todos somos um pouco como o corvo Edgar de Xico Sá. Aposto, por exemplo, que os torcedores em geral (tirando os dos próprios clubes envolvidos) gostaram de ver a derrota do Palmeiras, urraram de alegria com o tropeço do Corinthians, gostaram do fracasso do Barcelona e adoraram a queda do Real Madrid. Sem falar que deram um sorrisinho de escárnio ao ver Messi errar um pênalti e quase gargalharam de felicidade ao ver o pafioso Cristiano Ronaldo desperdiçar o seu.

Imagino que, além do óbvio sadismo, um bom tanto do prazer que estas cenas nos causam vem do fato de mostrar que não há invencíveis, de mostrar que todos podem ser derrotados. É como se nós fôssemos Davis e estes times e craques fossem Golias.

As derrotas destes maiorais mostram que nós, os comuns, também podemos vencer. É claro que pode ser por um golpe de sorte, como as bolas de Messi que bateram na trave, ou por falhas como o frango de Júlio César. Mas o importante é que elas provam que os pequenos também podem chegar aos píncaros da glória. Desde que os semideuses deem uma escorregadela.

E não há lugar melhor para uma escorregadela do que um campo de futebol. Eles parecem de grama, mas são de gelo, e assim não há gigante que não caia de bunda de vez em quando.

Eis aí um dos segredos que fazem do futebol o esporte mais amado do planeta.