terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Tu és o Glorioso: a reação do Botafogo à vergonha do jogo de domingo. Quem não é torcedor comum, entende



Meu camarada Zé Sérgio, do grupo de amigos do Cid, escreveu uma obra prima numa simples troca de mensagens que mostra bem a grandeza do Botafogo e dos seus torcedores. Quem é comum, quem torce pra times comuns, quem aceita vencer mais um campeonato graças ao apoio da arbitragem jamais vai entender a beleza de um texto como esse. É bom recordar que foi em 1988, após o choro da gandulinha Sonja Martinelli, depois de mais uma derrota injusta para o Vasco, que o Botafogo ressurgiu para ganhar o campeonato de 1989, com aquele gol antológico do Maurício. Vale a pena ler. Só para aqueles que têm bom gosto e sensibilidade.

Uma maravilhosa catarse!
Zé Sérgio
Discordo de tudo e de todos, inclusive do amigo professor Simas e do ex-colega de editoria de Esportes do Globo, o sempre lúcido Fernando Calazans, que enxergaram ridículo, patetices e (caso do Simas) até boiolismos na maravilhosa manifestação do grande Bebeto, do grande Cuca (por mim, vai morrer técnico do Botafogo, pois entre os técnicos que já tivemos só mesmo o Saldanha encarnou tanto a alma botafoguense) e do time inteiro no vestiário, após a derrota no 1º turno. E o grande Montenegro também teria sido menos comedido se não tivesse, ano passado, esgotado o próprio repertório. Montenegro falou demais na hora errada e agora está na muda.

O que houve naquele momento foi, sim, intempestivo; foi, sim, algo do qual até poderemos nos arrepender algum dia (foda-se, todo mundo se arrepende algum dia das grandes e leves cagadas). Porém, "cena ridícula e patética", jamais! Aconteceu, apenas, uma maravilhosa catarse, talvez um rito de passagem bonito pra cacete, e se eu estivesse lá teria reação parecida.

Quem já foi garoto e rodou na macumba em dia de Cosme e Damião vai entender. Quem já fez bar-mitzvá vai entender. Quem lembra da primeira punheta que tocou vai entender. Quem foi jogado no chuveiro pelo pai ou pelo avô depois da primeira porranca vai entender. É preciso mergulhar um pouco mais na alma botafoguense para entender o que se passou. Somos diferentes, somos assim mesmo. A lucidez que se foda! Quem for lúcido demais corre o risco de não entender totalmente o perispírito, o DNA, a estrutura molecular alvinegra.

Leiam melhor o fantástico "Botafogo entre o céu e o inferno", de autoria do Sérgio Augusto, para saber que é preciso ir mais fundo, além dos heróis que demoliram o tabu de duas décadas sem títulos, das duas gerações de ouro dos anos 60 (a do Jairzinho-Gerson-Roberto e a do Garrincha-Didi-Nilton Santos). Tem que ir muito mais pra trás, antes mesmo do Heleno e até do Carvalho Leite. Somos o único grande clube brasileiro, e talvez o único grande clube do planeta, que foi fundado por um bando de guris e continua existindo, vivo, firme e forte. Eram garotos jogando bola ali onde hoje é a Cobal do Humaitá, uns mequetrefes, e foi a vó (dona Chiquitota) do nosso primeiro presidente (Flávio Ramos) que deu nome definitivo ao time.

O Botafogo é (ou era, pois o que aconteceu naquele vestiário), portanto, um eterno adolescente. E vamos continuar sendo um pouco isso. No entanto, depois daquele fuzuê no vestiário, a coisa vai mudar, meus chapas, hãhã, vocês vão ver só o que vai ser bom pra tosse! É simples, caros incréus, o Botafogo está ficando adulto, daí o sagrado descontrole que tomou conta de jogadores, dirigentes e torcedores. A questão é meramente hormonal. Enquanto outros times do primeiro escalão do futebol brasileiro envelhecem, nossa pica acaba de tomar forma. E tomem cuidado, pois a coisa é grande, artefato da melhor envergadura, tipo Djalmão de anedotas.

Ouçam bem o que estou lhes dizendo: com exceção do São Paulo, que é um clube sem alma alguma, uma Grande Rio das quatro linhas, uma espécie de Imperatriz Leopoldinense sem Zé Katimba, os grandes times brasileiros têm belas histórias, têm belos passados. Mas no futuro poucos restarão. Assim como o Andaraí, o Mangueira, o Canto do Rio, muitos vão desaparecer do mapa. Aqui, no Rio de Janeiro, arrisco: no ano 2.500, quando o Brasil completar o primeiro milênio, só restarão o Botafogo e, possivelmente, o Flamengo.

Sobre o que aconteceu em campo, no domingo, peço licença pra pedir que vocês, que gostam de assistir jogos dos campeonatos europeus, me digam, honestamente: o juiz é personagem nesses jogos? No cu que é. Raramente, sua senhoria européia se torna mais importante em campo do que os atores principais. Por favor, me entendam: não acredito que o Flamengo tenha comprado o Marcelo de Lima Henriques (guardarei este nome pelo resto da vida, junto com o de um sujeito chamado José Marçal Filho), mas este cretino acabou com um jogo que estava bonito e disputado, um jogo em que as faltas demoraram a acontecer (e que começaram porque os dois times perceberam o quão inseguro e incompetente era o apitador), um jogo que só teve impedimento um milhão de minutos depois do apito inicial. E, com certeza, foi determinante para o resultado da partida. Seja a favor do Flamengo ou do Botafogo (é "rúim", hein?). Portanto, um escroto. Não um canalha, que os canalhas são simpáticos. Marcelo de Lima Henriques é apenas um imenso escroto. Ele, sim, foi patético e ridículo, tal e qual outros safados (incluindo a safada gostosa que armou pro Figueirense).

O Botafogo, seus dirigentes (talvez os únicos decentes do futebol brasileiro atual), os jogadores (que elenco! desfalcado e tudo, partiu pra cima até o minuto final) e a torcida (que maravilha de torcida, ninguém vai calar nossa turba!) não mereciam um pilantra como esse. Aguardem que os pelinhos da barba do garoto estão crescendo! O moleque já foi na zona! Tem mais campeonato pela frente. E a lucidez que se foda!!!

4 comentários:

Anônimo disse...

PC, aproveito para fazer uma correção: onde se lê Imperatriz Leopoldina, é claro que é Imperatriz Leopoldinense. Abraços e saudações alvinegras!

PC Guimarães disse...

Estou ajustando. Copiei e vou levar pra mostrar aos meus alunos. Que textaço, meu! Fiquei emocionado. Só quem tem a grandeza de ser botafoguense ou a sensibilidade afiada vai entender. Somos diferentes. mesmo.

Anônimo disse...

See HERE

Athos Moura disse...

Professor, preciso tirar umas dúvidas com o senhor. É sobre o desafio que você nos passou na aula de documentação na terça.
Meu email: athosmoura@gmail.com
Eu estou correndo atrás da matérias, mas tá difícil.
Aguardo contato.
Abra
Athos Moura