segunda-feira, 5 de março de 2007
Crônica: "Doidão conhece doidão"
Doidão conhece doidão
Paulo Cezar Guimarães
A aula já estava quase no fim e o aluno entrou na sala, esbaforido, suado, rindo muito, com um sanduíche numa mão e um copo de mate na outra.
“Desculpe, professor. É que estava no trabalho e...”.
Ao ver os olhos brilhando do rapaz, o professor não conversou:
“Acho melhor você botar um colírio nesses olhos. E sabemos bem o motivo ...”.
O aluno emendou de bate-pronto:
“Pois é, né, professor?: doidão conhece doidão!”.
Essa história me foi contada por um professor amigo e passei vários dias rindo. O aluno hoje é um conceituado profissional, casou, tem três filhos e não sei se mudou. O professor hoje tem quase 60 anos e continua morando em Santa Tereza (quem é do Rio ou conhece o Rio, vai entender).
E me lembra uma outra história contada pelo mesmo professor, que ocorreu na mesma faculdade.
Um dia, ao entrar na sala de aula, numa época em que usava os cabelos longos, o professor percebeu que um pequeno grupo de alunos fumava um baseado no fundo da sala ainda vazia. Disse apenas:
“Pô! Qual é?”.
E um deles respondeu:
“Fecha a porta, cara, fecha a porta!”.
E ele:
“Fecha a porta nada, gente: eu sou o professor”.
E o outro gritou:
“Ih! O professor. Sujou!”.
E saíram correndo porta afora.
Quem dá aulas em faculdades pelo Brasil afora – e por que não, pelo mundo afora? – já presenciou cenas como essa. São comuns de acontecer. A juventude, de uma maneira geral, gosta mesmo de “apertar um baseado”. E isso não é de hoje.
Mas uma coisa eu garanto: não é botando a polícia nas ruas para pegar um garoto com um baseado que o problema vai ser resolvido. Mesmo porque, geralmente, muitos desses jovens não chegam tomar o rumo da delegacia; o problema é resolvido no meio do caminho ou numa boa conversa com os pais.
Na Holanda, a maconha é vendida em “smokey cofee shops” e nem por isso as pessoas andam nas ruas fumando maconha como quem come um sanduíche de presunto. Sou a favor da legalização.
Afinal de contas: doidão conhece doidão e os brasileiros conhecem algumas das autoridades que o país tem.
Publicado no Jornal de Debates (www.jornaldedebates.com.br)
A ilustração é uma "pérola" tirada da Internet. Não li o livro. Depois mando a nota fiscal pro autor. É outro, além do João, que vai ter que me pagar um almoço pela divulgação.
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