Boa análise da Eliane Cantanhêde na Folha de hoje.
É caso de caixa, não de saúde
ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA - Lula usou o primeiro dia útil do ano para deflagrar duas operações de recuperação: uma, dos R$ 38 bilhões perdidos com o fim da CPMF; outra, da imagem e da auto-estima do ministro Guido Mantega, que ele próprio tinha desautorizado publicamente.
Ficou o dito pelo não-dito. Ou melhor, o não-dito do dito pelo não-dito. Mantega anunciou que haveria aumento de impostos e cortes para compensar a CPMF. Lula deu-lhe um carão, negando o óbvio. Agora, foi o próprio Mantega quem foi à TV para dizer que ele estava certo. Logo, Lula blefara.
E a sensação é de que os aumentos do IOF e da CSLL, que incidem sobre operações financeiras, são apenas a primeira parte da história. Lá pelo meio do ano deverá haver uma reavaliação, com mais "novidades". Depende da vitalidade da economia. Preparem os bolsos.
Sim, porque o discurso oficial é de que os bancos foram chamados a pagar a conta, mas não é bem assim. Quem paga IOF não é o banco, é o tomador do crédito. E o peso da CSLL vai acabar caindo sobre o preço do produto. Alguma dúvida?
A favor do governo, não havia muita alternativa. Corte de R$ 38 bilhões corresponde a redução de superávit fiscal, corte drástico de despesas e/ou aumento de impostos. O equilíbrio desse tripé varia de acordo com o freguês. Como o governo decidiu corretamente não mexer no superávit fiscal e sempre faz apologia da gastança, o aumento de impostos era inevitável.
Agora, é acompanhar os tais cortes anunciados de R$ 20 bilhões. Calculadoras da Esplanada dos Ministério estão a mil, e já há general pensando em convocar o Alto Comando do Exército para defender o tão prometido "reequipamento" (com aumento do soldo, claro).
Por falar nisso, onde foi parar a promessa de garantir os recursos extras da Saúde? Virou uma "equação futura". O problema é de caixa, não de saúde, manjou?
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