Minha amiga e ex-aluna Leila Carrilho mandou interessante entrevista publicada na revista Época.
Chega de blá-blá-blá nas empresas - Para consultor, o mundo dos negócios está tomado por gente que fala como idiota
Por Maria Laura Neves
O psicólogo americano Jon Warshawsky, de 41 anos, responsável pela área de pesquisas da Deloitte, uma das principais empresas de auditoria e consultoria do mundo, é um crítico contumaz da linguagem cifrada usada na arena empresarial. Segundo ele, um grande número de homens – e mulheres – de negócios usa palavras vazias e frases sem sentido para impressionar seus interlocutores. Co-autor do livro Por Que as Pessoas de Negócios Falam como Idiotas (Editora BestSeller), recém-lançado no Brasil, Warshawsky (lê-se Uarchósqui) diz que ele mesmo agia assim até alguns anos atrás, mas se deu conta, com o tempo, do ridículo da situação. “Ouvimos uma enorme quantidade de jargões e clichês”, afirma. “Falar vagamente é uma maneira de se proteger de problemas.”
JON WARSHAWSKY•
QUEM ELE É - Nasceu em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1966. É solteiro e não tem filhos. Mora em San Diego, na Califórnia
• ONDE ESTUDOU - Formado em Psicologia pela Universidade Miami, em Ohio (é isso mesmo!). Fez MBA em Estrutura Organizacional pela mesma instituição
• O QUE ELE FAZ - Responsável de pesquisas da Deloitte, uma das maiores empresas de auditoria e consultoria do mundo, na qual trabalha desde 1998. Antes, trabalhou sete anos na extinta Arthur Andersen, outra gigante do ramo
ÉPOCA – Por que o senhor diz que as pessoas falam como idiotas no mundo do trabalho?
Jon Warshawsky – A comunicação dentro das empresas piorou muito nos últimos anos. Há duas ou três décadas, só existia um canal de comunicação. O presidente dava uma ordem aos empregados, e eles a seguiam. A palavra do chefe era como a palavra de Deus. Agora, há tantos canais informais de comunicação que as pessoas ficaram confusas, e as mensagens obscuras. Há pouca sinceridade e autenticidade entre as pessoas. Tudo o que ouvimos é uma enorme quantidade de jargões e clichês. Paradoxalmente, a transparência nunca foi tão importante para a sobrevivência das empresas.
ÉPOCA – O que leva as pessoas a falar assim?
Warshawsky – Vários fatores. Quando somos jovens, falta coragem para expor nossas próprias idéias. Então a gente copia a maneira de falar dos mais velhos. Quando somos mais velhos, podemos assustar os colegas e superiores com idéias novas. Surgiu recentemente um novo código de conduta nas empresas: a onda do politicamente correto. As pessoas têm medo de dizer coisas irreverentes e de ser processadas por isso. Falar vagamente é uma maneira de se proteger de problemas. Outro ponto importante: muitos executivos usam jargões e clichês para atenuar as notícias ruins que têm de dar a funcionários e acionistas. Ou usam esses termos simplesmente porque não sabem do que estão falando.
ÉPOCA – Quais as piores expressões que o senhor encontrou?
Warshawsky – Odeio responder a essa pergunta. Há várias expressões terríveis. “Reengenharia” é uma delas. É o termo mais usado pelos consultores de gestão atualmente – e não quer dizer nada. Reengenharia não é nada mais que mudar alguns projetos na empresa. Outra expressão horrível é “liderança de idéias inovadoras”. Como alguém pode ser arrogante a ponto de achar que é mais esperto que o outro? “Valor agregado” também não quer dizer nada. Só diz que o resultado será mais valioso sem dizer o que será mais valioso, por que será mais valioso ou como será mais valioso.
ÉPOCA – A cultura das empresas estimula isso?
Warshawsky – A cultura empresarial é parte fundamental do problema. Muitas vezes, é a própria empresa que não quer dizer nada. Tem medo de sofrer processos na Justiça ou simplesmente não quer ter sua imagem associada a idéias diferentes.
ÉPOCA – Como expor as próprias idéias sem perder a confiança das empresas?
Warshawsky – É uma situação desconfortável. É difícil conseguir se expressar com autenticidade quando a empresa impõe a maneira como devemos falar e escrever. A melhor saída é encontrar um executivo ou gerente que tenha senso de humor e segurança. É importante não ter medo de ser demitido. Só assim, ele poderá discordar das normas de comportamento existentes. E seus colegas poderão aprender a ser criativos sem ser inconvenientes. É importante dizer que as empresas não estão 100% erradas ao impor limites aos funcionários. Muita gente é divertida, mas muita gente não é. Alguns são nerds; outros, ultrapassados.
ÉPOCA – Os jargões são usados em todas as profissões. Qual é o problema de usá-los nos negócios?
Warshawsky – Nas empresas, as pessoas não estão preocupadas em ser entendidas. Elas querem é impressionar os outros. Acham que falar difícil e usar palavras técnicas é uma demonstração de conhecimento. Acreditam que assim impressionam – e às vezes até impressionam. No setor público, as pessoas também usam essa linguagem vaga. Os governantes usam eufemismos e metáforas porque não gostam de falar de forma direta.
ÉPOCA – Quem fala bem no mundo dos negócios?
Warshawsky – Jack Welch (ex-presidente da GE) é um bom exemplo. Ele não sai de uma sala de reunião sem dizer claramente o que pensa.
ÉPOCA – Há algum exemplo de como ele é direto ao se comunicar?
Warshawsky – Quando teve de cortar 10% dos custos da GE, ele expôs a todos os funcionários os critérios. Outro exemplo é Jeff Bezos, presidente da Amazon. No começo, a Amazon perdia dinheiro. Ele falava disso abertamente, sem rodeio. Com isso, ganhou a confiança dos investidores. Steve Jobs (fundador e presidente da Apple) também é claro quando fala de seus produtos. A boa comunicação afeta de forma positiva as vendas.
ÉPOCA – O senhor nunca usou clichês e jargões ao longo de sua carreira?
Warshawsky – Ah, já usei. Principalmente quando era jovem e tinha acabado de sair da faculdade. Eu também queria impressionar. Escrever o livro foi uma espécie de redenção. Para os outros dois autores, também. Hoje não suporto mais ouvir essas besteiras. Meus ouvidos doem...
ÉPOCA – Como as pessoas podem saber se estão falando como idiotas?
Warshawsky – É uma questão de treino. Sempre me pergunto se um leigo entenderia o que estou querendo dizer. Se ele entender, é um bom sinal.
ÉPOCA – Há situações em que falar assim pode ser útil?
Warshawsky – Os termos técnicos são muito bons quando usados da maneira correta. Só não podem ser usados para esconder algo.
Leia, abaixo, alguns dos termos mais esdrúxulos do mundo dos negócios. A lista foi feita com base no glossário do livro Por Que As Pessoas de Negócios Falam Como Idiotas (ed. BestSeller), do qual Jon Warshawsky é um dos autores.
- “Alinhamento organizacional” é uma maneira que estudiosos da administração de empresas encontraram de tentar transformá-la em ciência. Não quer dizer nada.
- “Arquitetar” é uma forma mais pomposa de dizer os verbos pensar e instalar.
- “Base de conhecimento” não quer dizer nada mais do que “conhecimento”.
- “Bloquear ou imobilizar”: o mundo dos negócios está repleto de metáforas do mundo dos esportes. Os idiotas das empresas, segundo Warshawsky, tem inveja dos esportistas.
- “Centro de excelência”. O termo deixa a dúvida: será que nas outras áreas da empresa não precisam ser excelentes?
- O termo “energizar” tinha outro significado no passado. É equivalente ao verbo “delegar”. Num passado mais remoto, era a mesma coisa que “mandar”.
- Apesar do termo “estratégico” ter um significado real e ser importante nas empresas, virou um clichê.
- “Foco no cliente” não é nada mais do que a obrigação da empresa. Não deveria ser um termo tão adulado no mundo dos negócios.
- Dizer aos funcionários que eles têm de “Pensar fora da curva”, segundo Warshawsky, é apenas uma tentativa de fazer os babacas do mundo dos negócios pensar.
- Todos os funcionários de uma empresa têm que estar “voltados para o resultado”. O oposto disso seria “voltados para o prazer”.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR77710-8056,00.html
quarta-feira, 27 de junho de 2007
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