Mais de meia-noite. Chego em casa com a cabeça inchada, depois de sofrer com o meu Botafogo no Engenhão, ficar horas esperando o trem sair da estação e me irritar com mais uma edição da Veja. Ligo o computador. Lá está o Vicente. Como sempre, trabalhando. É um workaholic nato.
- Fala, meu!
- Fala, Vicente!
- E aí?
- Acabei de chegar. Vou fazer um pipi!
- Pô, meu! Esquece isso. Vamos trabalhar.
- Vou esquentar uma lasanha dormida no micro-ondas.
- Pô, meu! Esquece isso. Vamos trabalhar. Qual é a sua?
Alguns minutos depois, o telefone toca:
- Cadê você, meu?
Me preocupo com o bolso do meu amigo, que mora em Brasília, e chamo pra conversar no skype. Antes aviso que a lasanha está quentinha e que eu vou traçá-la imediatamente. E o Vicente:
- Pô, meu! Esquece isso. Vamos trabalhar.
Como a lasanha diante do computador. Fico em silêncio. Mastigando. E Vicente:
- Pô, meu. Você está me ouvindo?
- Estou. De boca cheia. Mastigando.
- Pô, meu! Esquece isso. Vamos trabalhar.
Peço um tempo para pegar um copo de guaraná. E Vicente:
- Pô, meu! Esquece isso. Vamos trabalhar.
Uma e tanto da matina. Me despeço, desligo o computador e vou pra cama dar uma lida num livrinho antes de dormir. O telefone toca de novo.
- Cadê você, meu?
- Estava indo dormir.
- Pô, meu. Esquece isso. Vamos trabalhar. Qual é a sua?
ACONTECEU.
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