quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Crônica do dia (O Entregador de Pizzas)

O entregador de pizza

Paulo Cezar Guimarães

Maurício Menezes, quem é do
ramo conhece. Ex-repórter de O Estado de S. Paulo, ex-produtor e apresentador
de programas na Rádio Globo, hoje na Rádio Tupi, e, nas horas vagas (que devem ser muitas), cômico e humorista. Temos uma “rixa” antiga: disputar para ver quem
“sacaneia” mais o outro.

Como aquela do ponto do ônibus. Certa vez, eu estava num ponto perto
de casa, quando Maurício passou, de carro, um Honda vermelho que tinha,
antes de comprar a “Van" (eu costumo dizer que ele a usa para fazer
lotação). Ao me ver, parou:

— Quer carona, PC?

Sério, abri a porta traseira, sentei-me no banco e, ainda com a porta
do carro aberta, disse, em voz alta, diante de todo mundo:

— Pô, rapaz, já te falei diversas vezes para não atrasar. Estou
aqui há mais de dez minutos. Depois, se eu te demito, levo fama de mau
caráter, de durão... Vá andando, vá andando...


Bati a porta, botei a mão no queixo, virei o rosto pro lado, e fiz cara
de contrariado. Nunca mais fui o mesmo naquele ponto. Durante muito
tempo, senti que as pessoas passaram a me olhar de modo diferente.

Para quê? Meses depois, em São Paulo, durante uma festa de entrega do
Prêmio Aberje, eu estava no banheiro, quando senti uma vassoura batendo
no meu calcanhar. Pensei que fosse um faxineiro inconveniente, e me
virei para dar uma bronca no sujeito. Dei de cara com Maurício, às gargalhadas,
com uma vassoura nas mãos.

— Desculpe, doutor, desculpe doutor!

Final do ano passado, entrega do Prêmio Esso, no Rio, aproveitei para
aprontar mais uma. Desta vez, com o Bruno, filho do Maurício. Enquanto
nosso dublê de jornalista e artista divertia um grupo de “coleguinhas”,
contando aquelas histórias malucas que ele sempre arruma, eu, quieto,
estudava uma forma de sacanear o filho.

Bruno, que não nega a origem, também estava a fim de aprontar comigo. Sem eu ver, durante o jantar, colocou uma colher no bolso do meu paletó, e ficou na dele. Quando levantamos, ele chamou a atenção de todo mundo e mostrou o que eu tinha “guardado”
no bolso. Antes que todos caíssem na gargalhada, Bruno, ao vestir o
paletó, displicentemente sobre o braço, deixou cair duas colheres, três
facas, dois garfos e, de quebra, um guardanapo, que eu já havia colocado
em seus bolsos durante o jantar.

Mas a grande sacaneada que dei no Maurício foi quando ele me chamou
para assistir a um jogo do Flamengo em sua casa, na Tijuca. Passei numa
pizzaria e comprei uma daquelas tamanho família. Ao chegar no prédio
onde ele mora, apresentei-me ao porteiro como entregador de pizza. O
porteiro não deve ter botado muita fé na minha aparência, apesar de
eu estar vestindo calça de linho, gravata e paletó azul marinho. Fez
o que os porteiros geralmente fazem: imprudentemente, mandou-me subir
e foi interfonar depois.

Quando cheguei no andar do Maurício, toquei a campainha, e fiquei escondido
atrás da embalagem da pizza, mostrando apenas o nariz e os olhos. Maurício
entreabriu a porta, semi-trancada com aquelas correntinhas que “tijucano”
adora instalar. Atrás dele, com os olhos arregalados, mulher, filho,
nora, sogra e até o cachorro da família.

— O senhor tem certeza que foi daqui que...

Quase apanhei quando descobriram que era eu.

— Pô, cara, fui atender o interfone na cozinha, o porteiro falou
que o entregador de pizza estava subindo, e eu, desligado, agradeci.
Quando cheguei na sala, tinha sanduíches, salgadinhos, pipoca; comida
que não acabava mais...
Perguntei: mas quem foi que pediu pizza? Ficou todo mundo calado.

Depois do susto, quem conseguia relaxar com o jogo na tv? A propósito,
o Flamengo perdeu, e todos ficaram me acusando de ter “secado” o time
deles. Logo eu? Depois dizem que botafoguense é supersticioso.

Ontem, na entrega do Prêmio Esso, Maurício voltou a encontrar comigo no banheiro. Estava eu solitário na "casinha", como se chamava antigamente, quando a porta abriu e entrou alguém. Pensei:

- Só falta agora algum amigo maluco entrar aqui e me sacanear. Não deu outra:

"Doutor, doutor, posso passar a vassoura?"

Era ele.

Acho que Maurício anda me seguindo quando vou a o banheiro...

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