segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Aula de Jornalismo, Folha de S. Paulo: Lula cria vocabulário próprio em discursos

Meus amigos

Muito interessante a matéria de Eduardo Scolese e Pedro Dias Leite publicada na Folha de hoje sobre o vocabulário de Lula. Confesso, humildemente, que há alguns anos fiz matéria parecida no jornal O Globo sobre o vocabulário do então governador do Rio Leonel Brizola. Muitos devem lembrar do clássico “não é verdade” que o governador usava em 11 de suas frases.

Abaixo alguns trechos da matéria.

O "dado concreto" é que "nunca na história deste país" um presidente esteve tão "convencido" de que não existe "mágica na economia", seu governo está fazendo uma "revolução na educação" e o "século 21 será da América Latina" -e tudo isso é "extraordinário".
Os termos e as expressões acima são algumas das mais comuns nas 1.127 falas oficiais, a maioria delas de improviso, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez até o último dia 15 em seu mandato.

Vocabulário
Expressões como "dar um cheiro", "bala na agulha", "nego pisa na canela", "café no bule" e "colher de chá" são comuns em suas falas, assim como locuções latinas, como "sine qua non", "pari passu" e "sui generis", e um vocabulário específico no qual busca uma sintonia com os presentes, como "bagrinho", "cascudo", "cavoucar", "desgramado", "véio", "véia", "jumbão", "léguas", "matutando", "taco" e "urucubaca".
Lula, por exemplo, repete que "dor de dente é coisa de pobre" e somente são contra a transposição das águas do rio São Francisco aqueles que abrem a geladeira e têm "água francesa Perrier".

Para Célia Ladeira, 60, professora da Faculdade de Comunicação da UnB (Universidade de Brasília) e especialista na análise de discursos, Lula adquiriu um vocabulário próprio ao longo dos anos e o utiliza de forma empírica em suas falas como presidente.
"Não há falsidade em seu jeito de se expressar. De tanto ouvir ou de ler o que foi escrito por seus conselheiros, ele adquiriu um vocabulário próprio, se colocando no mesmo nível social das pessoas."

Inês Signorini, 55, professora de lingüística aplicada da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que Lula se convenceu de que seu modo de falar é adequado e, ao longo dos anos, foi aprimorando seu estilo, sem vestir uma máscara.
"A língua dele está em processo, agregando palavras", diz a professora, que afirma enxergar uma evolução nas falas de Lula, numa comparação com tempos de sindicalismo e de candidato petista nos anos 80 e 90. "Hoje as frases fluem mais, e ele erra menos gramática. O trunfo dele é essa linguagem complexa", declara.
Lula tem o costume de brincar com o público quando adota termos novos. Foi assim, em julho passado, em um evento sobre biodiesel no Planalto, ao falar sobre o trabalho de "transesterificação". "Eu passei três meses para aprender a falar essa palavra sem gaguejar", disse.

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