quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Crônica (Churrasquinho de carteira)

Churrasquinho de carteira
Paulo Cezar Guimarães

O legal de escrever na Internet é que tem
gente que lê, gosta e até colabora. Para mim, aprendiz de cronista,
tem sido muito gratificante. Outro dia, recebi mensagem da minha amiga
Soninha Queiroz, doce figura dos tempos de O Globo.

- PC, é você mesmo? Sei de muitas histórias.
Quer que eu te conte alguma? -
indagou na mensagem.

- Claro que quero - respondi.

Agora há pouco, abri o meu e-mail e estava
lá a colaboração da Soninha.

Ela conta que, certo dia, estava Henrique Caban, antigo chefe de redação de o Globo, conhecido pelo seu temperamento explosivo, lendo, calmamente, o jornal na sala de Evandro Carlos de Andrade, então diretor de Jornalismo, quando adentra um alto executivo da empresa com um jornal dobrado nas mãos. Zangado, ele botou o jornal
em cima da mesa e perguntou:

- Caban, você não acha que um erro desses
no título de primeira página do jornal é inadmissível?


Caban leu a manchete, constatou o erro (era
um erro de português grosseiro, algo como uma palavra que se escreve
com "s", escrita com "c") e concordou:

- E o que você pretende fazer? - perguntou
o executivo.

Caban ficou calado, olhando para o jornal
e para o sujeito que, diante da impassividade do austero chefe, tornou
a protestar:

- Acho que você não está me entendendo, Caban:
um erro desses é passível de demissão
- insistiu.

- Também acho.

- E então?, cobrou, abanando a folha de jornal
diante de Caban, que, meio sem graça, respondeu:

- OK, faz o seguinte: me autoriza a ligar
para o Walter Fontoura, no Jornal do Brasil, que eu peço a demissão
do responsável pelo erro.


- Como assim? - perguntou o executivo.

- Não sei se o senhor percebeu, mas o jornal
que tem nas mãos não é o Globo; é o JB.


Soninha emenda outra da redação de O Globo.
Essa, de “puxassaquismo explícito".

Depois de longa data enrolando o filho mais
novo do patrão, Carmo, um despachante que prestava serviços para o pessoal
da redação, chega todo alegre com a carteira de motorista de José Roberto
Marinho, e pede para Soninha entregar ao nosso “companheirinho”. Quando
Soninha se preparava para entregá-la, Carmo disse:

- Espera aí... Vamos entregar a carteira
plastificada, bonitinha...


E Sônia:

- Não precisa... deixa assim mesmo.

- Me dá ela aqui. Vou lá na Pesquisa, e num
minuto volto com ela plastificada.
(É bom explicar que, à época, o Departamento
de Pesquisa tinha acabado de receber a máquina de plastificação, mas
ninguém ainda dominava bem o seu uso)

- Carmo, vê lá o que você vai fazer... ninguém
lá sabe direito mexer com aquela máquina...


- É mole... pode deixar. E subiu com a carteira
do Zé na mão.

Dez minutos depois, volta ele, com cara de
idiota. Nas mãos, os fragmentos torrados da carteira do Zé Roberto.
Ele também não sabia mexer na máquina, e simplesmente queimou a carteira.
Foi um acesso de riso geral.

- Bem feito. Isso é para você deixar de ser
puxa-saco -
brincou Soninha.

Ela, então, pegou o que restava da carteira
e foi entregar a José Roberto.

- Zé, abre a mão. Tenho uma surpresinha para
você.


Zé Roberto ficou sem saber exatamente do
que se tratava mas espalmou as mãos para receber o “presente”.

- Toma. Sua esperada carteira de motorista
-
disse Sônia.

E despejou aquele monte de papel queimado
nas mãos dele.

José Roberto deu uma sonora gargalhada e
disse ao Carmo:

- Carmo, quero outra. E por favor, dessa
vez, não plastifica não, tá?.

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