Meus amigos: o Blog do PC gasta uma grana para pagar o holerite e o jeton do José Luis F. Só que o nobre escriba volta e meia pega um Ita no norte e vai gastar os Euros na Europa. Como os contratos do Blog com a Coca-Cola, a IBM, a Sony, a Nike e as Organizações Tabajara exigem a presença permanente de um colunista aqui neste espaço sideral, sou obrigado a recorrer aos serviços mais em conta do Sydd Benn, o Interino. Mais uma vez fui encontrá-lo num bar da Cinelândia. Nas condições da foto que ilustra este post. Vejam a camiseta que o rapaz ostenta. Framengueiro costuma dizer que existe uma torcida arco-íris, mas o Framengo é a única torcida que cria torcidas para torcer contra os outros. E por falar em arco-íris, aviso aos tricolores que se apaixonarem pelas coxinhas gorduchas do escrevinhador que os e-mails devem ser enviados para syddbenn@botafogo.org.br
Informo ainda que o texto já foi enviado há mais de duas horas. Tive, entretanto, de convocar Affonso Romano de Santanna e Ferreira Gullar, redatores do Blog, para passar um pente-fino no texto e em outras partes do rapaz. Não dava para publicar com "amarelaçe", "suissídio", "entre parentes" e "flágeis". Fora "sucessotibilidades" e "heterogenildade". Bem ao estilo dos framengueiros.
Ladies and gentleman e framengueiros, com vocês:
Sydd Benn, o Interino.
"Meus amigos,
Envio aqui meu balanço da rodada. Como de hábito, ao redigir estas modestas linhas deixo de lado paixões clubísticas e deixo fluir livremente o meu amor pelo Rio de Janeiro, esta cidade que tão bem acolheu este pernambucano que vos fala.
De antemão, peço desculpas aos torcedores do Vasco e do Duque de Caxias. Por estar com muito trabalho, vou me limitar à análise dos times da primeira divisão. Mas, que não fiquem zangados comigo os vascaínos. No ano que vem eles estarão de volta à divisão de elite do futebol brasileiro e, assim, serão também objeto de minhas avaliações semanais.
Deixando de lado esse nariz de cera inicial, vamos ao que interessa.
É inegável que a rodada foi apenas razoável para os times cariocas.
O Fluminense não foi de todo mal. Mesmo sem seu principal jogador, Conca, arrancou um empate no Serra Dourada, saindo com um pontinho que pode ser valioso nesta reta final do campeonato.
Como tive oportunidade de dizer outras vezes, acho que o pó-de-arroz ainda não está morto. Seu time não é bom; tem uma heterogeneidade de amargar. Mas tem uns quatro ou cinco bons valores. O goleiro Rafael, o já citado Conca, Allan e Fred – este último dando um tempinho na bebida – podem jogar em equipes de ponta. O maior problema é que os demais são muito ruins. (Entre parêntese: os demais são tão ruins que eu ia me referia eles como “o resto”, mas a tempo me lembrei de um ensinamento do dr. Tancredo Neves: “Nunca diga o resto, diga sempre os demais. É mais elegante e não fere susceptibilidades”).
Mas essa heterogeneidade tem complicado a vida do Fluminense. Ainda assim, é um time de fibra, tem camisa, tem tradição e tem torcida. A seu favor conta muito o fato de não tremer nas decisões. Pode ganhar ou perder, mas nunca deixa de vencer por ter amarelado.
Por isso, considero que, se cair só um carioca, o mais ameaçado não é o Fluminense.
O Flamengo foi muito mal, embora tivesse garantido os três pontos. Time que quer ser campeão não pode perder tantos gols como o mais-querido perdeu no primeiro tempo contra o Botafogo. Era para ter virado uns 4 a 0. Daqui para a frente, se quiser chegar a seu sexto título nacional, o Mengão não pode errar tanto.
Seu segundo tempo foi sofrível. Chegou a ser dominado por um adversário muito inferior, cujo único objetivo neste campeonato é escapar da degola. Não fosse o conhecido complexo de inferioridade que o Botafogo tem em relação ao Flamengo - que fez com que o “vibrante” Lúcio Flávio mais uma vez amarelasse diante de Bruno ao cobrar um pênalti - o Mengão poderia estar amargando a perda de um ponto irrecuperável.
Já o Botafogo, bem, o Botafogo perdeu de novo – pela 18ª vez consecutiva diante do Flamengo.
A derrota me deixa preocupado porque – sendo o Botafogo sabidamente um time de nervos frágeis - não deve chegar às últimas rodadas dependendo de resultados. Se isso acontecer, cai. Irremediavelmente. Como se sabe, o Botafogo não suporta jogos decisivos. Treme sempre.
A bem da verdade, deve ser dito que essa característica não faz parte da história do Botafogo. Em 1910 (há um século atrás) – e nos anos 60 (há 50 anos) teve times briosos. Mas é inegável que, nas últimas décadas, o ex-Glorioso tem se caracterizado pela covardia.
Isso, mais do que a qualidade sofrível do time botafoguense - é que me faz ter mais preocupação com ele do que com o Fluminense no que toca às chances de rebaixamento.
Há uma compulsão suicida nos botafoguenses que pode ser-lhe fatal. Só essa compulsão explica Lúcio Flávio ter sido designado bater – e perder – mais um pênalti contra Bruno. O pobre moço já chega verde na bola. A impressão é que a imagem que ele vê diante de si é a de um gigante – Bruno - defendendo um gol do tamanho de traves de futebol de botão.
Essa compulsão ao suicídio me preocupa no Botafogo, neste momento difícil que o time atravessa.
Por fim lembro mais uma vez a história de um amigo botafoguense e do piano – instrumento musical que ele gostaria de ter aprendido a tocar. Aos que não conhecem a historinha, conto de novo, de maneira sucinta: esse amigo, em sua juventude, queria muito tocar piano, mas foi impedido pelo pai. Severo, este último decretou, ao impedir que o filho realizasse aquele sonho: “Piano é coisa de viado”. Agora, já de cabeça branca (ainda que mantenha longos cabelos e brinco na orelha), meu amigo lamenta: ”Veja só, hoje sou viado e não sei tocar piano”.
Algo semelhante pode acontecer com o Botafogo.
Ele está batalhando em duas frentes: a tal Copa Sul-Americana, que não serve pra nada e a qual ele não vai ganhar, e o campeonato brasileiro, no qual tem água à altura do nariz.
Pode acabar feito o meu amigo que não conseguiu tocar piano: sem ganhar a Sul-Americana e rebaixado.
Enfim , estas são carinhosas preocupações manifestadas por alguém que – antes de tudo - quer o bem do futebol carioca".