Se o Botafogo repetir no Rio o futebolzinho que exibiu no Equador, sua participação na Libertadores não irá alem de uma escala em Quito. Perdeu para um time tão remendado quanto os “pequenos” do Campeonato Carioca e perdeu sem oferecer qualquer ameaça ao adversário. Nos 94 minutos de jogo deu dois chutes (eu disse “dois”) entre os paus do goleiro Ramirez, que poderia ter tirado uma soneca debaixo das suas redes. Só teve trabalho em um escanteio cobrado por Jorge Wagner que tentou (tentou?) um gol olímpico. Já do outro lado, o nosso Jefferson teve que se virar para evitar um mal maior.
Nem se diga que a propalada altitude foi a responsável pela bisonha atuação. Em alguns momentos os equatorianos pareciam mais cansados do que nossos alpinistas. Preocupado com o fôlego dos jogadores, o Botafogo chegou a Quito horas antes do jogo, esquecendo-se, porém, de um pequeno detalhe que também faz diferença na altitude: a bola! A 2.800m de altitude, ar rarefeito, a bola fica mais leve, mais veloz e o jogador precisa alterar seu toque para acertar os passes. Como o time não teve tempo para ser apresentado a esse efeito da altitude, nos chutes a gol a bola subia enlouquecida, rumo à Linha do Equador. Mas também não foram muitos esses chutes: oito, ou cinco se eliminarmos os três do Marcelo Mattos que não acerta entre as traves nem ao nível do mar.
O Botafogo já causou certa estranheza ao demorar para adentrar o gramado. Não sei se foi obrigado a aguardar o termino do capitulo da novela da Globo ou se se estendeu nos exercícios respiratórios.
O fato é que um bandeirinha foi lá, bater na porta do vestiário alvinegro. Os primeiros 15, 20 minutos foram desastrosos. Bem disse o comentarista Junior: ”o Botafogo não consegue dar dois, três passes em sequência”. Sobravam chutões para todo lado e foi num desses chutes à galega de Dória que o Deportivo marcou seu gol através de um jogador que não tem nada de estúpido, apesar de se chamar Estupinãn.
Aos poucos o Botafogo foi “entrando no jogo”, melhorou a posse de bola, mas ainda assim não conseguia uma jogada articulada que o levasse até o gol de Ramirez. No segundo tempo, quando pensávamos que o time viria com a faca entre os dentes, o Botafogo continuou com aquele joguinho que me causa profunda irritação: os zagueiros ficam tocando a bola de lado, vão até o meio de campo, voltam, tocam mais um pouco até que um deles dá um chutão para frente e seja o que Deus quiser. Nesse tipo de ligação direta, Deus quase nunca quer...
O Botafogo há tempos não tem saída de bola, não tem um cara que veja o jogo e distribua as jogadas. Ano passado Seedorf – que não tem mais idade para a função – ainda quebrava o galho com sua clarividência (não a toa se chama Clarence). Sem um meia de ligação e com um bando de volantes que não sabem o que fazer com a bola (alem do desarme), nem adianta o técnico Eduardo Húngaro encher o time de atacantes porque a bola não chega até eles.De nada adiantou a presença de Wallysson que entrou no meio do segundo tempo lado do novo Abreu .
O jogo foi se encaminhando para o final com o Botafogo tocando bola sem conseguir provocar um pingo de entusiasmo nos seus torcedores que foram atrás do time. Quando o juiz colombiano encerrou a partida pensei naquele slogan: ”Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”. Se o Botafogo tivesse levado essa frase para o jogo, tenho certeza que dia seguinte haveria em General Severiano uma fila de torcedores que viajaram a Quito. E não seria para garantir sua satisfação.