Este é um Blog basicamente sobre futebol. Mas é também sobre a VIDA. Contra as injustiças, contra a repressão, contra a tortura. Cid Benjamin é framenguista, mas é gente boa.
Para que esse tipo de coisa nunca mais se repita no mundo. Leia isso, Sidney, para entender um pouco mais o seu País.
Deu hoje no Globo.
esquecer/negligenciar o passado é recorrente por aqui no país do samba e futebol.
ResponderExcluirnão esqueçamos que o presidente da cbf fazia parte da corja que comandava o país nesta época.
Essa época foi terrível.
ResponderExcluirClaro que eu não vivi isso, pois nascendo em 82, cresci junto com algumas das manifestações populares (claro que também manipuladas em parte) mais autenticas do país.
Meu pai (pioneiro de Brasília) me conta muito sobre essa época, o como sempre foi diferente o tratamento dos moradores do Plano Piloto (Asas sul e norte) e do resto de Brasília.
Me conta que já passou algumas noites detido em delegacias para averiguação, enquanto o PM jogava a marmita dele, já vazia, no chão na hora da abordagem, no momento em que ele descia, já chegando em casa. Meu pai tem raiva de PM até hoje por isso.
Claro que meu pai também não é santo, e ele também conta, com alguma satisfação, das vezes onde eles puderam se vingar de algum PM conhecido por covardias. Nada de sangue, ou violência direta. Uma entrada dura em uma disputada pelada aqui, um banho de bexiga de urina ali, um chifre no meio... E está ai a vingança do pobre.
Ele me conta que no Plano Piloto, o tratamento era diferente. A polícia nunca sabia se estava abordando um filho de um superior ou de um político, e meu pai, por sempre trabalhar com alguma proximidade desse pessoal, também recebia esse tratamento especial, claro, somente nas áreas nobres da cidade.
(...)
ResponderExcluirUma das histórias engraçadas que ele conta é que em uma sexta-feira, após sair do serviço, ele tomou a condução e se dirigia para a cidade do Gama-DF, onde morava na época.
Saindo um pouco da Asa sul, o ônibus foi interceptado por uma “Rádio Patrulha”, como diz meu pai. É claro que todos os homens forma encaminhados para a DP, e até o pobre do cobrador, que havia esquecido os documentos, foi para a DP.
Meu pai me conta que conhecia um dos PMs, de apelido “Cabo Brabo” – figura conhecida no Gama na época – e que o mesmo fez questão de jogar a marmita do meu pai no chão, inutilizando a mesma.
Chegando na 1ª DP (Asa sul), o ônibus estacionou e foi sendo conduzido um por um dos homens para averiguação. Lá dentro, meu pai de cabeça baixa ouve uma voz:
- Japão!! Ou Japão??? (esse era o apelido do meu pai nas peladas e entre amigos)
Meu pai levanta a cabeça e localiza o delegado, que completa:
- Japão, o que você ta fazendo aqui???
Meu pai explica para o delegado sobre o que ocorrera, e o delegado acaba perguntando se ele havia sofrido alguma agressão.
Nisso o meu pai conta para ele que o “Cabo Brabo” havia quebrado a marmita dele...
Não é que o delegado chamou o cabo, e obrigou o mesmo a retirar alguns caraminguás do bolso e pagar o meu pai? A satisfação que meu pai conta que teve, não é descritível com palavras...
Esse delegado conhecia o meu pai de longa data, e já havia sido seu professor na juventude dele no interior do Goiás. Eles se encontraram de novo, pois meu pai foi fazer uns pequenos serviços na casa deste por uma acaso do destino, o que rendeu algumas outras boas histórias.
Meu pai ainda encontrou esse senhor algumas vezes, sendo que a última eu estive presente.
Estávamos em um hipermercado, quando o meu pai avistou um velhinho, com a cabeça ainda mais branca que meu pai, mas já com alguma dificuldade de andar. Meu pai afirmou conhecer esse senhor, e disse que era seu professor na juventude, e delegado já nas décadas de 60 para 70. Ele foi lá, se apresentou e depois de alguma conversa, onde meu pai o chamava apenas por professor, ele arregalou os olhos, deu um largo sorriso e disse:
- Japão, é você? Como você está bem!
Claro que foi emocionante, ver aqueles dois distintos senhores em um longo abraço, onde as emoções tomaram de conta do momento.
Pessoas passavam e sorriam, enquanto os dois conversavam com os olhos em lágrimas.
Fiquei sabendo que esse senhor, o professor do meu pai, morreu pouco tempo depois. Mas a memória do momento está aqui na caixola.
Mas resumindo, meu pai me conta que o militarismo foi muito bom, para quem já era rico ou influente. Para os pobres, foi um período de humilhação, e para os politizados, um período de muita dor.
Meu pai também teve amigos deportados, ou que sumiram na sombra, sem nenhuma notícia dos mesmos até hoje. Algo lamentável... Queria ouvir essas pessoas, e suas histórias.
Pc, meu pai é uma autêntico contador de “causos” sobre qualquer coisa que tenha vivido. Está com ele em uma roda de amigos é ter garantia de ótimos momentos. Meu pai é minha referencia.
ResponderExcluirClaro que ele também encheu a minha cabeça de imagens do que eu não vi, ao descrever os jogos que ele viu do Botafogo aqui em Brasília e também em Goiânia. Segundo ele, ver aquele plantel em campo e não se apaixonar era algo impossível. Daí ele ser botafoguense, e daí a ótima influencia que eu e meus irmãos temos. Alguém integro e honesto, isso é, BOTAFOGUENSE!!!
Ops... falha minha.
ResponderExcluirOnde se ler "Está", quis dizer "estar".
Muito boa a história, Rick.
ResponderExcluirPessoal de Goiás é forte e lutador.
Meu pai (92 anos) é de Goiás Velho.
Ih, Rick, desculpe. Desculpe o meu comentário já deletado. Vc é dos nossos. Tem bom gosto. A pressa passa e a merda fica.
ResponderExcluirRelaxa PC.
ResponderExcluirEu também vi esse "movimento popular", mas estava bem vacinado! Passei imune a essa doença.
Mas eu estava falando mesmo eram das "diretas já" e da assembleia costituinte, esses sim, movimentos importantes.
Pois é Mário!
ResponderExcluirO pessoal do Goiás "é bruto" mesmo.
Adoro a cultura, a comida e, principalmente, as goianas!!!
Assim como você, tenho um pouco desse sangue!
Vou preparar uma galinhada com pequi e chamar o PC para almoçar aqui em casa.
ResponderExcluirBelíssima homenagem, PC.
ResponderExcluirTambém considero o Cid Benjamim um dos maiores expoentes da história recente do país, atualmente é uma das vozes mais lúcidas na análise do quadro político brasileiro.
No entanto, o "personagem" que mais marcou-me após ler dezenas de livros sobre este período foi exatamente o irmão dele, o Cesar.
Quando o nosso novo sócio Rick estava nascendo, eu lia o segundo livro sobre este tema, o primeiro tinha sido A Face Oculta do Terror, desde a leitura de Os Carbonários acompanho algumas coisas e após alguns anos sem mexer no assunto, deparei-me com um emocionante depoimento do Cesar Benjamim dado no âmbito da Comissão da Verdade na OAB/RJ.
Vendo o depoimento, fiquei pensando o quanto fazemos pouco da liberdade dos dias atuais, e não são somente os jovens, existe muito cascudo fazendo merda e pondo na conta da "liberdade disto ou democracia daquilo".
Acho que estamos vulgarizando a luta, o sofrimento e até a nossa história com alguns excessos.
Muito bem PC!
ResponderExcluirLeia isto Sidbey. Você precisa.
Obs.: Não quero roubar a tutela do Sidney do PC, só estou colaborando.