Colunista flamenguista assume que tem uma "queda pelo Botafogo"

Pago R$ 1,99 por mês ao Sydd Benn, o Interino. É um desses cinquentões ressentidos (no caso dele, sessentão. Ou seria setentão?) que passaram a infância e a adolescência sendo gozados pelos amigos na escola. Na época ainda não se usava o termo zoar; eles eram gozados mesmo. Por trás e pela frente. Muito menos a expressão "bullying" estava na moda. Bastava ter um jogo Botafogo e Flamengo, Manguinha fazer a feira no sábado por saber que o bicho era certo no domingo, para eles se esconderem atrás das saias das "mamis" pedindo para não ir à escola na segunda, geralmente na zona Sul. Botavam o uniforme lavado e engomado com Rinso, passavam Gumex no cabelo, vestiam meias três quartos, sapatinhos envernizados e iam serelepes direto pra sala da "tia" na esperança de fugir da hora do recreio. Eram capazes até de doar o conteúdo das merendeiras (geralmente maçãs embrulhadinhas, pão doce e suquinho de laranja coada).

Mas aí veio a Ditadura, o Walter Clark, o Márcio Braga e a Globo e ... o resto da história vocês já conhecem.

Com vocês, Sydd Benn, o Interino:

“O presidente me disse que precisava montar um time forte, de personalidade, pois não aguentava mais perder do Flamengo nas finais. Já conhecia a força do Flamengo e fiquei empolgado com o desafio.”

As palavras não são minhas, mas do maior ídolo do Botafogo, Loco Abreu, numa entrevista de página inteira ao Globo de domingo último. O “presidente” a que ele se refere é o presidente do Botafogo – sem dúvida a mais abalizada voz para falar sobre o clube.

Penso que Loco Abreu é um jogador apenas bonzinho. Mas tem uma inteligência acima da média entre seus pares. Comparado com Alessandro, por exemplo, pode ser considerado um verdadeiro Einstein. Sua personalidade e sua inteligência compensam, em parte, suas deficiências técnicas.

Na entrevista ao Globo ele teve a coragem de se referir ao maior problema do Botafogo nas últimas décadas: o complexo de inferioridade diante do Flamengo.

Só vi tamanha sinceridade numa conversa entre PC Guimarães e Osvaldo Munteal, na sala de professores da Facha, onde dou aulas. Os dois – sem saberem que eram ouvidos – desfiaram as mágoas, chegando quase às lágrimas. PC chegou a confidenciar uma de suas grandes frustrações: que sua mulher era Vasco e – pior! - sua filha era Flamengo.

A cena era tão pesada que guardei um silêncio respeitoso na época, dando um prazo de carência para revelar o que eu e o professor Gilson Caroni ouvimos.

Já disse nessa lista que tenho muitas razões para gostar do Botafogo.


Alinho algumas. 1) Meu pai, figura muito querida, era botafoguense. 2) Fui vice-campeão de futebol de praia como quarto-zagueiro do infantil do Botafogo (até 15 anos), cujo técnico era o lendário Neném Prancha. 3) O Botafogo ocupou o lugar do América em meu coração: é aquele time médio que mantém alguma competitividade, mas não chega a ameaçar.

Por isso mesmo, lamento ter acertado no diagnóstico que fiz depois da saída do Joel: com o time (?) que tem, o Botafogo não pode se dar ao luxo de jogar aberto. Tem que ficar na retranca, esperando o erro do adversário. Esse rapaz, Caio Júnior, vai cair logo, caso não reveja a disposição de jogar no ataque.

Fico na esperança de que o Botafogo consiga vencer o Avaí quarta-feira, de forma a seguir na Copa do Brasil. Espero, também, de todo coração, que não precise da ajuda do juiz, como ocorreu quando eliminou o River Plate de Sergipe, na fase anterior da Copa do Brasil. Como é de conhecimento geral e foi fartamente demonstrado pelas imagens da TV, o Botafogo beneficiou-se por um gol em que a bola não entrou. Só assim prosseguiu na competição.

Agora, fora do estadual, seria muito ruim se meu segundo time fosse também eliminado da outra competição que disputa, porque isso o obrigaria a ficar parado por quase 30 dias, até começar o campeonato brasileiro.

E sobre o campeonato carioca, lembro ao amigos botafoguenses PC, Zé Luiz Fevereiro e Passarinho: fosse ele disputado em pontos corridos, o Flamengo – o melhor time do Rio – já teria sido campeão com uma rodada de antecedência. Mas como a vida é cheia de injustiças, teremos que disputar a final (caso não sejamos também campeões da Taça Rio). Que seja assim. Não vamos ficar de chororô. Nos damos ao respeito.

PC, Fevereiro e Passarinho, eu os tenho na conta de pessoas que querem a justiça, por isso, pergunto: vocês torcerão pelo Flamengo? Ou se somarão à torcida arco-íris?

Espero que a ética fale mais alto.

E, já que falei na torcida arco-íris, penso que seu representante será o Vasco, que cresceu com a vinda do Ricardo Gomes e as contratações que fez.

Não acho ruim. Apesar da minha queda pelo Botafogo, devo dizer que, como vice, prefiro o Vasco. Perde com mais dignidade. Não fica com aquele chororô patético diante das câmeras de TV.

Por fim - devo confessar - me equivoquei. Não acreditava que fôssemos ter um pequeno nas semifinais da Taça Rio. Achei que teríamos apenas times grandes e médios.

Mas os melhores analistas também se equivocam.