As autoridades estão generalizando e transformando motoqueiros e motociclistas (há uma diferença) em "bandidos". Não pode isso, não pode aquilo. Já pensaram até em proibir garupas em motocicletas. Essa gente só sabe arrecadar com a Indústria da Multa e é incapaz de encontrar uma saída inteligente e criativa. Elio Gaspari, um dos maiores jornalistas do Brasil, escreveu ontem um belo artigo sobre o tema. Saiu na Folha e no Globo.
A demofobia quer punir os motoqueiros
Elio Gaspari
No Rio, uma Suzuki de 125 cilindradas não teria direito a garupa; companhia, só com a de R$ 19.490
SURGIU UMA nova forma de demofobia nas grandes cidades, a repressão aos motoqueiros. No Rio, o governador Sérgio Cabral gostaria de proibir que levassem gente na garupa. Em São Paulo, muitos vereadores querem a mesma coisa, articulando a derrubada de um veto de 2004 da prefeita Marta Suplicy. A defesa dessa providência tem uma atraente base estatística pois, segundo a polícia paulista, de cada 10 roubos que ocorrem na cidade, 6 envolvem motoqueiros. Seriam pouco mais de 9.000.
Há 600 mil motos em São Paulo. Penalizar o motoqueiro que não assalta os outros, proibindo que usufrua o conforto de um veículo pelo qual pagou, é pura demofobia. Admitindo-se que cada moto-bandida seja usada em apenas dois roubos num ano, a relação das garupas paulistanas com a delinqüência fica em 1,4%. É um índice inferior ao dos ministros de Lula que foram indiciados em processos criminais (10%).
Percebe-se melhor o viés social da idéia sabendo-se que um deputado fluminense (Pedro Fernandes - DEM) apresentou um projeto (1.178/07) proibindo que as motos com menos de 500 cilindradas carreguem gente na garupa. Assim, quem compra uma Suzuki de 125 cilindradas (R$ 5.300) não tem direito a garupa. Se quiser companhia, deve levar o modelo GS500E, de R$ 19.490.
Em vez de olhar para os motoqueiros de baixa cilindrada como se fossem um estorvo, as cidades ficarão melhores se o poder público lhes der mais atenção. Toda vez que se pensa em motoqueiro surge a idéia de proibi-lo de fazer isso ou aquilo. Mesmo os motoboys, que não carregam ninguém na garupa, são tratados como condutores de veículos de segunda categoria, intrometidos. Eles são mais de 1 milhão de brasileiros que ralam entregando papéis, pizzas e encomendas. Faturam entre de R$ 500 e R$ 800 por mês, muitas vezes sem direito a nada. Figuras diabólicas, freqüentemente malcriadas, movem-se em ziguezague e danificam os espelhos do carros. Mesmo assim, asseguram pizzas quentes, bem como a produtividade de empresas que precisam de transporte rápido. Em São Paulo, morre um motoboy por dia, quase sempre sem seguro de vida.
O motoqueiro não é problema, é solução. Problemas são os engarrafamentos e a má qualidade do transporte público.
Se começarem a tirar das ruas as motos com documentação irregular, as de motociclistas que trafegam sem capacete (na cabeça) e as que forem vistas circulando entre faixas e carros, em vez de ocupar seu lugar correto na pista, vou querer ver quantas vão sobrar.
ResponderExcluirhehe
ResponderExcluirMas quero ver quem consegue fazer isso de maneira profissional. E como fica a "cervejinha" daquele pessoal? (rs)