domingo, 6 de maio de 2007

O Rei e a censura


Artigo do Elio Gaspari publicado hoje na Folha e no Globo sobre a briga do Roberto Carlos com o jornalista Paulo César Araújo. Só que o mestre erra (?) no preço: paguei R$ 54,90 (com desconto para professor, pois o preço real era R$ 59,90) na caríssima livraria Siciliano. Odeio essa livraria!

A censura de Roberto Carlos é coisa arriscada
Elio Gaspari
A biografia do cantor custava R$ 40 nas livrarias. Agora pode acabar saindo de graça na internet
ROBERTO CARLOS corre o risco de se transformar numa fracassada celebridade da história da censura. Amparado na Justiça, ele obteve da Editora Planeta e do escritor Paulo César Araújo o compromisso de retirar das livrarias todos os exemplares de "Roberto Carlos em detalhes". O cantor não gostou da biografia e considerou "uma falta de respeito lançar mão da minha história, que é um patrimônio meu".
Num artigo excepcional, o escritor Paulo Coelho, um dos autores mais festejados pelos leitores e massacrados pela crítica, condenou a atitude do cantor, a capitulação da editora e mostrou que no caso esteve em jogo "o destino de todos os escritores brasileiros" .
O fogo aceso por Roberto Carlos poderia se transformar numa daquelas infindáveis discussões sobre censura, privacidade, neurastenia e sensacionalismo, mas faltou sorte ao cantor. Já houve casos semelhantes e, num deles, em vez de se queimar o livro, queimou-se um pedaço da reputação da família do presidente francês François Mitterrand, morto em 1996. Uma semana depois do funeral, Claude Gluber, seu médico pessoal, publicou o livro "O Grande Segredo", contando que, desde 1981, Mitterrand padecia de um câncer de próstata disseminado nos ossos. No último ano de governo não tinha condições físicas para exercer a Presidência da França.
Gluber foi condenado a quatro meses de prisão por quebra do sigilo médico, a família ganhou uma indenização e o livro foi recolhido. Nove dias depois da apreensão, "O Grande Segredo" estava na internet. O dono de um café copiara um exemplar, pusera o texto na rede e conseguira uma demanda de mil internautas por hora. Arrumaram um pretexto e prenderam o homem, mas no dia seguinte o texto apareceu na página de uma estudante da Universidade de Glasgow. Ainda não se passara um mês e começou a tradução para o inglês, obra de um grupo de voluntários do Knox College. Logo depois, a edição virtual do livro banido virou notícia no "New York Times".
Em 2004, o governo francês foi condenado pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos por ter banido o livro, que hoje está nas livrarias e na internet.
"Roberto Carlos em detalhes" custava R$ 50 nas lojas. Se cair na rede, sairá de graça.

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