sexta-feira, 6 de abril de 2007

A Palestina fica aqui


Eixo do bom-humor
LUCAS MENDES
Bem antes do 11 de Setembro, o show era conhecido como Noites das Arábias: três comediantes árabes, um judeu e uma dançarina do ventre no palco.
A concepção da Noite das Arábias foi de uma judia, Mitzi Shore, do Comedy Store de Los Angeles. Deu certo desde o começo.

O ataque às Torres estemeceu o grupo, mas Mitzi insisitiu que subissem ao palco na sexta-feira, três dias depois da tragédia. Foram bem recebidos.

O noticiário das guerras no Iraque e Afeganistão piora, as ofertas de trabalho e os contratos dos comediantes melhoram. O judeu e a dançarina deixaram Noites das Arábias, e, inspirado no discurso do presidente Bush, o grupo agora é conhecido como Eixo do Mal - O Tour da Comédia.

Todos na mira

Max Jobrani é iraniano-americano. Ahmed Ahmed é egípcio-americano. Aron Kader é palestino-americano.

Um empresário já propôs a eles fazer um show "ao vivo" da Faixa de Gaza. Negativo. Seria morte certa.

As piadas não perdoam americanos, nem árabes, nem judeus. No mundo árabe, seriam fechados antes de abrir, mas aqui os shows estão quase sempre esgotados com antecendência e a platéia, em geral, é metade árabe, metade americana.

As vaias e os protestos são raros, mas acontecem. Num show perto de uma base militar, uma mulher, meio de porre, interrompia sem parar com insultos raciais. Ahmed perguntou: "A senhora é pró-Bush?". Ela não respondeu e foi silenciada a vaias. Pegou a bolsa e foi embora.

Problemas

Os maiores problemas de Ahmed não são no palco. Ele tem o mesmo nome de um terrorista que está na lista dos cinco mais procurados pelo FBI. O nome dispara as luzes vermelhas quando ele faz o check-in nos aeroportos. Os agentes aparecem de todos os cantos e Ahmed se defende com recortes de jornais, CDs e DVDs da sua vida de comediante.

Às vezes, os agentes pedem que ele conte piadas. Ele conta, mas nem sempre escapa. Em Las Vegas, foi preso por um um policial mal-humorado e levou 12 horas para ser solto. Reuniu um bom material entre os presos e sua experiência hoje faz parte do show.

Aron Kader, palestino, às vezes se depara com um judeu bravo. Um deles
interrompeu o show com a pergunta: "Onde fica a Palestina? Mostre no mapa!".
Aron silenciou o judeu apontando para a própria cabeça e o coração: "A Palestina fica aqui". Aplausos para o palestino, vaias para o judeu.

Osama Bin Laden e Al-Qaeda não são assuntos proibidos. Com o tempo, tragédias viram comédias.

Aron conta como era divertido passar férias nos campos do Osama quando era criança. Uma das brincadeiras favoritas era tomar e queimar a bandeira americana.

Os três comediantes sabem que jamais poderiam levar o show para a maioria dos países árabes, e na Palestina seriam fuzilados sem saber qual a fonte do disparo.

Numa apresentação em Dubai, o dono da casa de espetáculos censurou várias passagens de deboche aos sauditas.

Os três sabem também que Eixo do Mal - O Tour da Comédia está incompleto. "Se conseguíssemos um comediante da Coréia do Norte, ficaríamos milionários, diz Ahmed. "Além do presidente, será que existe algum norte-coreano engraçado?".

Fonte: BBC Brasil

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