terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
Crônica ("Um estranho no ninho")
Um estranho no ninho
Paulo Cezar Guimarães
Vida de executivo é fogo! Sabemos disso. Que o diga Renato Paladino, que conheci trabalhando na Vale do Rio Doce. Logo que entrou na Companhia, ainda jovem, foi transferido para o Japão, e uma de suas primeiras missões foi acompanhar uma negociação na China.
“A aventura de fazer negócios no exterior é inesquecível, e coloca as pessoas em situações inusitadas, engraçadas e curiosas. Na hora de comer, principalmente. Tem momentos em que não há gesto que dê jeito. Na primeira vez que saí para jantar com colegas na China, deu tudo certo até pedirmos a sobremesa. Cansado de se expressar inutilmente, um colega resolveu pedir a sobremesa pelo preço. Escolheu a mais cara, no cardápio em chinês. Veio um bolo de aniversário enorme. Teve até “Parabéns pra você’, cantado por garçons, cozinheiros e pelo dono do restaurante”, lembra, rindo.
Por falar em comemoração, nunca é demais lembrar que os chineses adoram um brinde. Geralmente com uma espécie de aguardente muito forte.
“Você tem que virar o copo para mostrar que bebeu tudo. Se você não é forte para a bebida, corre o risco de ficar tonto”.
Paladino conta que já experimentou as coisas mais estranhas do mundo. Como o ovo de 100 anos, por exemplo. A “sutil iguaria”, depois de ficar enterrada na cal durante longo tempo, vira uma espécie de gelatina preta, que é servida em fatias.
“Sem falar no pepino do mar, que dizem ser bom para a virilidade, e no olho de peixe, servido na sopa. O ideal, mesmo, é só perguntar depois de comer. Uma vez fui apresentado ao tal “Sole mio”, uma carne roxa, que, até hoje, eu não descobri o que é. O perigo é quando o convidado elogia muito a comida com o objetivo de agradar. Eles acabam colocando mais no prato”.
Cobra, ele garante que nunca comeu. Mas conta que numa feira em Taiwan, um colega teve de experimentar.
“Eles espremem a cobra, retiram o sangue e põem no copo para beber.
É certo que o Oriente hoje está mais ocidentalizado, digamos assim, mas há quinze anos, pouca gente falava inglês, e havia dificuldade para se comunicar”.
Cada missão durava em torno de 30 a 40 dias. E tinha também situações perigosas. Como aquela em que um grupo de amigos de Paladino foi fazer uma negociação no Irã durante a guerra com o Iraque. Precisaram sair correndo para não ficar no meio do conflito.
“Uma vez, na Índia, durante uma reunião com executivos da segunda maior empresa do país, roubaram todas as nossas malas que estavam no carro. Ficamos retidos quase uma semana sem conseguir voltar para casa, pois os nossos passaportes estavam dentro do veículo. Chateados com a situação, os indianos colocaram um despachante à nossa disposição. Só depois, soubemos o que aconteceu: o motorista, que trabalhava há seis anos na empresa, costumava dormir no carro. Aquela tinha sido a terceira vez que isso acontecia”.
E as viagens entre os países? Certa vez, para fazer uma negociação na Líbia, Paladino levou quase dois dias viajando sem parar.
“Saímos de Bruxelas para a Tunísia. Em Tunis, pegamos um outro avião para Djerba, na fronteira da Tunísia com a Líbia. Um motorista foi nos buscar, e viajamos 9 horas pelo deserto, num carro sem ar condicionado”.
A aventura acabou assim? Que nada:
“O pior foi ficar ouvindo música árabe durante todo o percurso, sem mudar de canal”.
Algo assim como ficar ouvindo funk seis meses sem parar.
Professor, vim aqui pra te mostar a coisa mais ridícula do jornalismo que jã vi na minha vida... www.diarinho.com.br
ResponderExcluirAs manchetes são de doer...
Vou lá ver, Guilherme. Valeu a dica.
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