sábado, 3 de fevereiro de 2007

Crônica: "O milagre do boneco"


O Milagre do “boneco”
Paulo Cezar Guimarães

Repórter e fotógrafo foram cobrir o velório de um policial morto numa troca de tiros com bandidos. Como ocorre em alguns casos, o policial foi velado em casa, no bairro de Bento Ribeiro, subúrbio do Rio. Rua de terra batida, iluminação precária e muitas... muitas casas com quintal repleto de mangueiras.

Já que falamos em manga, o motorista da equipe era Roberto Manga Rosa, uma figuraça de um tagarela gozador, que trabalhou no Globo nos anos 70 e 80. Manguinha, como era chamado pelos mais íntimos, gostava de acompanhar os repórteres e costumava participar e dar opiniões nas reportagens.

Além de pegar o depoimento da mulher da vítima, o repórter deveria conseguir o “boneco” (fotografia, geralmente em 3 x 4; em alguns estados se chama "boneca") do falecido, mas não havia “clima” para isso. A viúva não parava de chorar diante do caixão do marido, e ninguém queria conversa com repórter e fotógrafo. Nisso, Manga chama o repórter num canto e diz:

- Chefia, tive uma sacada...

A idéia até que era interessante. Manga tinha observado na parede da sala um desses retratos de formatura que se faziam antigamente. De beca, com toda a pompa e circunstância, lá estava a imagem do policial morto à disposição do fotógrafo. Era só encontrar uma maneira de pegar o quadro. Manguinha, então, teve outra idéia “genial”:

- A gente dá um jeito de apagar a luz, eu pego o retrato, saio correndo, e vocês vêm comigo. Fazemos a reprodução, deixamos o porta-retratos com algum vizinho e saímos voando daqui. Já deixo o carro ligado.

O plano só não deu certo por um pequeno detalhe. Na pressa, Manga se distraiu e agarrou o quadro errado. Nada menos do que a imagem de Jesus Cristo, que estava justamente ao lado do retrato do falecido. Repórter e fotógrafo olharam para Manga sem saber se riam ou se choravam. A figura ainda tentou justificar:

- Chefia, juro que peguei o quadro certo. Só pode ter sido milagre ... ou castigo. A foto deve ter se transformado no caminho.

2 comentários: