segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Crônica (Dia da Banana), publicada no Jornal de Debates

E antes que eu me esqueça: tenha um feliz Dia da Banana
Paulo Cezar Guimarães

É dia pra tudo. Os tradicionais dia das mães, dos pais, dos namorados e até das sogras. Tem até Dia da Banana! E tome presente e comemoração. Mas até o Natal estão questionando?

Uma vez, um amigo meu que tem uma pequena empresa que produz jornais para grandes e médias empresas estava com um jornal pronto para imprimir. Ligou para a gráfica com o objetivo de combinar com o dono a forma de entrega dos fotolitos. Precisava do trabalho "pramanhã", como é de costume, e já estava no chamado "pente-fino".

- Amanhã não dá, amigo, pois é Dia do Gráfico - comunicou o dono da gráfica.

- Mas que 171 é esse, Jayme? – ele se espantou.

Era verdade. Dia 7 de fevereiro é o Dia do Gráfico. Pensando nisso, resolveu dar uma pesquisada e descobriu que realmente existe dia para tudo. Dá para acreditar que tem até Dia da Banana? É 22 de setembro.

Dia do Revendedor Lotérico? Tem: 26 de maio – anote, talvez seja um bom dia para se jogar na Megasena.

Em janeiro, que começa homenageando os Reis Magos, no dia 6, tem o Dia dos Aposentados, 24, e o Dia Nacional dos Quadrinhos, 30. Em fevereiro, além do Dia do Gráfico, tem o Dia do Agente Fiscal, 2. Gastaria linhas e linhas, e cansaria os leitores se fosse enumerar a quantidade de dias destinados a homenagens – justas ou não.

Mas não posso deixar de registrar, para meu orgulho, que o dia do meu nascimento, 14 de março, é o Dia da Poesia. Que lindo! E que minha mulher nasceu no Dia do Diagramador e do Revisor, 28 de março. Diagramador e revisor são raças em extinção; esposa também. Ops!

E tome Dia da Empregada Doméstica, do Engraxate, do Silêncio, do Automóvel, do Gari, do Massagista, do Tenista, do Mel, do Panificador, do Motociclista, do Garçon, do Frevo, do Radialista, do Relações Públicas, do Tradutor, da Normalista, do Inventor...

Dia 18 de julho, pasmem!, é o Dia Nacional do Trovador. Já imaginaram se algum político resolvesse apresentar um projeto para tornar esse dia feriado nacional e todo mundo fosse obrigado a ouvir o nosso "trovador" Oswaldo Montenegro cantando “Bandolins”, “Agonia” e “O Condor” durante todo o dia em todas as estações de rádio e tv? O pessoal da Casseta e Planeta, que detesta o Oswaldo, iria pedir asilo a alguma embaixada, em companhia de muita gente; menos a minha, pois sou fã e amigo do Oswaldão, mas juro que nesse dia iria ao cinema.

Certa vez, cansado de ouvir sugestões para fazer matérias em jornais de empresas sobre Dia dos Namorados, das Mães, da Mulher e da Secretária, o que sempre achei lugar-comum,
acabei descobrindo que 28 de abril é o Dia da Sogra, que, aliás, é o mesmo dia destinado ao Cartão Postal e à Educação. Como se alguém, algum dia, fosse lembrar de mandar um para a alcunhada "jararaca" ou então ligá-la à Educação. E é sempre bom lembrar que "todo dia é Dia de Índio".

Mas pera lá, pera lá, minha gente: Natal é Natal, pô! Católico comemora, judeu comemora e até o Romário que não consegue comemorar mais gols, comemora. Tudo bem que, particularmente, acho um dia triste. Passei oito anos de minha vida no Globo cobrindo a Missa do Galo. Mas tinha folga no Ano Novo. Viva o Natal! Tudo bem que a gente tem que assinar livro de ouro dos entregadores de jornais e revistas, dos porteiros, dos guardadores de automóveis, dos carteiros, dos frentistas, do jornaleiro da esquina, dos garis... de quem mais mesmo?

Começo a duvidar se é Viva o Natal ou Odeio Natal (como no livro recém-lançado). Tudo bem também que a grana está curta e a gente não vai poder dar aquele presente que a filha da gente tanto merece porque o dinheiro do 13º foi todo gasto pra pagar as dívidas. E é Natal e não pode faltar o presente.

Pensando bem, taí uma boa desculpa: esse tal de Natal é um comércio mesmo! E estamos conversados.

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