Meus amigos:
Estou com a bunda doendo, mas está valendo a pena. Falta pouco para concluir a decupagem da entrevista do Novasky. Eis a segunda parte. Vou mandar a terceira ainda hoje. Depois eu mando a conta pra vcs.
SEGUNDA PARTE
LUCAS: O que eu quis dizer é que recebemos mais informação do que antigamente. Queria saber se ela está melhor, pior ou igual. Você citou seis ou sete jornais. Leva tempo para ler todos.
Novasky: Leva sim. O que eu penso é que, de imediato, a Internet – a nova Mídia – exerce uma influência negativa sobre o Jornalismo nos EUA. O ciclo de notícias foi acelerado. Não se conferem os fatos na Internet como se faz nas revistas pequenas;mesmo aqui nos Estados Unidos. As mídias antigas não querem ficar para trás. Elas correm para publicar as matérias. Antigamente havia mais tempo de investigação. Nesse sentido, penso que as mídias antigas privilegiam o sensacionalismo, as fofocas, os interesses de magnatas como Murdoch e o estilo Ophrah. Todas essas tendências negativas e degradantes. No âmbito geral é muito saudável haver tantas vozes diferentes. E isso vai melhorar a situação. Mas, hoje, estamos no meio da transição. Ainda não chegamos lá.
LUCAS: Você acha que os americanos estão bem-informados?
Novasky: Eu vivo em dois mundos. Conheço pessoas bem-informadas, mas depois leio uma pesquisa com pessoas achando que a Al-Qaeda estava ligada ao bombardeio do 11 do 9, ou que, nesse dia, todos os judeus deixaram o prédio, pois eles estariam por trás de tudo e seriam contra as Declaração de Direitos e a 1ª Emenda. Eu um nível, meus olhos e ouvidos dizem que sim. Mas quando leio isso, vejo que não. Acho que não. Metade dos americanos não vota, não se sente ligado ao sistema.
LUCAS: Comparando, os europeus seriam mais bem-informados e mais bem-educados do que os americanos.
Novasky: Em certas épocas, e em certos países, sim. Mas acho que é uma questão de classes. Eu presenciei uma votação na França. Eu fiquei uns anos lá. Todos os pôsteres diziam: sim ou não, entende? Se perguntasse alguém na rua, sim ou não?, ele saberia do que se tratava. E, em Israel, nos cafés locais, o país inteiro só falava de política. E todos paravam quando ouviam três bipes na televisão. Era o repórter falando sobre a última guerra. Existem enclaves onde discursos políticos são muito fortes, mas no país inteiro não sei.
LUCAS: Nos anos 60 e 70, a Grande Mídia derrubou Nixon. A Grande Mídia era melhor naquela época?
Novasky: A Guerra do Vietnã durou muitos anos. Começou nos anos 50, quando assumimos o papel na França no Vietnã. A Grande Mídia apoiava as atividades americanas no sudeste asiático. De forma complacente, a Mídia foi um megafone para a política administrativa. Revistas como The Nation, The Progressive e outras levantavam questões. Em 1956 ou 57 The Nation publicou 55 artigos – antes da minha gestão - sobre o que estava acontecendo lá. Porém a Grande Mídia era um “cachorro de colo” e não um “cão de guarda”. Mas, assim que Nixon começou a desmoronar, o que se chama de rebanho independente, se debandou. Esse fato, durante um período glorioso, transformou a Mídia em uma força adversária. Porém, a Mídia se recolheu após a experiência do Vietnã. Na verdade, essa “Síndrome do Vietnã” surgiu, e, quando fomos para o Iraque, a Grande Mídia apenas ressaltou o que o Governo estava fazendo. Por exemplo, o presidente Bush começou a criticar os inspetores da ONU antes de eles terminarem seu trabalho. Hans Blix, o chefe da equipe de inspeção, era um funcionário público muito inteligente e honrado. Ele dizia: “Não achamos nada ainda”. Deixem-nos terminar o trabalho. Bush começou a atacá-lo e a Grande Mídia repetia os ataques de Bush. A Mídia não se questionava se era certo atacá-lo no meio do trabalho. É claro que isso criou a justificativa para entrarmos lá.
LUCAS: Como uma Mídia tão rica e poderosa foi tão ingênua na Guerra do Iraque?
Novasky: É o que se chama de pergunta de US$ 64. Nada disso é novo. Uma pequena revista, Mother Jones, fez uma imensa denúncia sobre carros sem segurança. The Nation, mais tarde, falou disso também. Essa não é a Mídia rica. O que Reagan chamou de “pasquim libanês” escreveu sobre a conexão Irã-Contras durante a época em que Reagan era presidente. Era uma revista com circulação de 20 ou 30 mil exemplares. É parte da tradição histórica que no Jornalismo publicações com baixos orçamentos obtenham maior impacto em matérias que tenham a ver com as forças fundamentais em atuação na sociedade. Elas estão observando as suposições ocultas que a Grande Mídia ignora. Esse é um dos fatores.
LUCAS: The Nation foi uma das poucas publicações que não confiou na explicação oficial desde o início. Por qu?e?
Novasky: Eu não expliquei a teoria que Jonathan Schell apresentou. Eu perguntava a Jonathan, que cobria matérias sobre mísseis nucleares, por que estávamos indo ao Iraque e pedia explicações. Isso aconteceu antes de ser divulgado que eles haviam decidido anteriormente. Jonathan respondeu: os neoconservadores, pessoas como Wolfowitz e outros, nos anos 90, publicavam artigos em jornais como The National Interest ou The Weekly Standard dizendo que, já que a União Soviética não era mais o poder da oposição, nós éramos a única superpotência e precisávamos nos livrar dos vilões do mundo. Esses artigos pareciam estudos contingentes de reincorporação. Ninguém os levava a sério em termos de política nacional. Era um pensamento fantasioso. Não havia uma relação com o que acontecia na realidade da Casa Branca ou do Congresso. Foi quando houve o 11 do 9 que exigiu uma resposta por parte do governo. Naquele ponto, as duas facções do governo Bush se reuniram e uma delas sugeriu que se exterminassem os vilões. Que se fosse ao Afeganistão e a outros lugares e que se fizesse isso. A presidência e alguns outros não quiseram. Alguém, vagamente representado por Colin Powell, disse que a resposta era a Democracia e também recorrer à ONU. O trabalho do presidente é escolher. Bush escolheu – do meu ponto de vista, do ponto de vista da nação e do povo - a opção errada. Insensata, imoral, impraticável e que não funcionou. Isso teve conseqüências que vão nos atormentar por muito tempo. Por que ele persistiu nessa escolha? Jonathan Schell me disse que ele é um alcoólatra em recuperação e retomou o rumo de sua carreira e de sua vida através de Jesus. Ao ser perguntado sobre quem foi o filósofo que mais o influenciou, ele respondeu: “Jesus Cristo”. Ele acredita ser o instrumento de Deus na terra. Quando alguém acredita nisso, não ouve as pessoas que o criticam de fora. Ele tem sua missão e a está cumprindo. Isso é um exagero e talvez seja uma caricatura. O próprio Bush admitiu que bebia demais e farreava demais. Ele não seguiu o programa dos 12 passos, mas não bebe mais. Acho que existe um pouco de verdade aí. Ele se vê nessa tarefa quase religiosa, ou se via, como tendo sido chamado para essa tarefa. Isso pareceu muito bom nos 20 minutos em que ele pegou seu helicóptero e aterrissou no porta-aviões e disse: “Missão cumprida”. Por que ele continuou com isso é uma questão tão importante quanto por que ele fez isso desde o início.
nice post. thanks.
ResponderExcluir