domingo, 3 de dezembro de 2006

CRÔNICA 4

CRÔNICA 4
Por hoje chega. Se o meu enorme contingente de leitores gostar, publico mais. "(quase) Todo repórter é mal educado e (quase) todo assessor de Imprensa é um chato" quase foi publicada no The New York Times. Só não foi publicada porque ninguém do NYT me pediu. Tem tudo a ver com as notinhas sobre as notinhas de assessores que o Xexéo tem publicado em sua coluna do Globo.
pc

(quase) Todo repórter é mal educado e
(quase) todo assessor de Imprensa é um chato

Paulo Cezar Guimarães*

- Boa tarde, de onde fala?- É da redação, pô!
- Eu poderia falar com Fulano?- Num tem ninguém com este nome não!
- Ele é novo. É da editoria Internacional...- Pera aí ... Fulanooooooo... telefone pra você.
(pausa)
- Ele mandou dizer que não está!
Quem já trabalhou em jornal conhece bem. Êta "raçazinha" para atender mal o telefone é essa nossa de jornalistas. Outro dia um colega até se espantou: ligou para a redação de um grande jornal do Rio, procurando um amigo, e a moça que atendeu perguntou se ele queria deixar recado.
- Você está falando sério? - perguntou espantado.
- Por quê? - respondeu ela.
- Deixa pra lá - concluiu.
Devia estar de passagem pela redação, ou tinha sido promovida, ou passado uma noite muito agradável. Mas quem está hoje do outro lado do balcão também sabe: tem cada assessor de Imprensa!
- Boa noite.- Boa noite.
- Eu queria passar uma notinha.- Já são 8 horas e tanto da noite e está até passando o Jornal Nacional!-
Mas é importante. Deixa eu ler pra você...É verdade que há certos "malas" históricos que costumam ou costumavam ligar para as redações. Tinha um, de um conhecido e atuante sindicato, que ligava todos os dias para os jornais. Sempre tinha uma pauta para passar. Um colega esgotou a paciência com ele no dia em que foi escalado para fazer uma matéria no tal sindicato. Ao chegar lá, era a eleição do novo tesoureiro. (Desculpe ex-companheiro Lula, mas tem cada sindicalista que vou te contar!). No dia seguinte, foi à forra. Estava na redação, no antigo mesão onde ficavam os telefones, e atendeu a ligação.
- Jornal O Globo, boa tarde.- Aqui é o Sicrano do sindicato tal. Eu queria...
- Alô... alô! Com quem deseja falar?- É o Sicrano do sindicato dos...
- Estranho! Alô... alô... Não estou ouvindo. Ligue de novo.
"Bateu o telefone" e saiu correndo para bem longe do mesão, deixando o "mala" para outro carregar. Há poucos dias, um publicitário conhecido ficou meio "cabrero", como diria meu sobrinho Gabriel.Tentou ligar para um amigo, diagramador, e os três ramais da editoria dele estavam ocupados. Depois de muito insistir, decidiu ligar para um ramal de outra editoria, mas que fica bem em frente à mesa dele.
- Por favor, eu queria falar com o Beltrano.- Beltrano está de férias. Só volta na semana que vem.
- Deve haver algum engano. Falei com ele agora há pouco. Ele trabalha aí em frente, na editoria tal.
- Ah! bom... Beltrano, telefone pra você.
Espero que tenha sido o início de uma grande amizade...
Ainda lembro como se fosse hoje de outras "malas" que habitavam a redação de O Globo. Tinha um advogado que aparecia quase todo sábado, no final da tarde, quando o jornal já estava rodando, com uma pasta cheia de documentos, querendo sempre fazer uma denúncia. A chefia, para se livrar daquele gaiato, escalava sempre um repórter para ouvi-lo. Toda vez que os repórteres observavam a figura, de longe, entrar na redação, corriam para o banheiro. Algumas vezes se escondiam debaixo do mesão, da antiga redação. Essa figura acabou elegendo-se deputado estadual. Durante a campanha, um repórter do JB teve a infelicidade de cruzar com ele na rua. Ele estava no meio da calçada, com um megafone, pedindo votos às pessoas que passavam, e viu o colega.
- Tá passando aqui o meu amigo, do JB. Ele me conhece e pode comprovar que eu sou uma pessoa séria. Fulano... Fulano... Ô Fulano...
Claro que saiu correndo, envergonhado.
E aqueles que viam disco voador? Geralmente ligam durante a semana, na hora do fechamento da edição. Mesa da chefia de reportagem, altas horas, toca o telefone.
- Jornal O Dia, boa noite!
- O senhor é jornalista?- Sou sim, minha senhora.
- É que moro aqui na Avenida Atlântica e estou vendo um disco voador na praia.
- Perto de onde a senhora mora?
- Bem na esquina da rua tal.
Para se livrar da figura, disse que iria mandar uma equipe para o local.
Meia hora depois, ela liga:
- Moço, acho que foi com o senhor que eu falei. O carro do jornal ainda não chegou e o disco voador continua lá.
- A senhora aguarda alguns minutinhos que ele (o carro, né?) deve estar chegando.
Mais meia horinha e novo telefonema:
- Moço, o carro ainda não chegou, mas o senhor não precisa se preocupar. Me enganei; era um barco. Pensei que fosse um disco voador. Para não perder a viagem, decidiu se vingar:
- Agora, minha senhora, sou eu que vou lhe pedir um favor. O carro deve estar chegando por aí. Eu pediria que a senhora descesse para avisar a equipe para que volte à redação.
Daria tudo para saber se ela realmente desceu.
Certa vez, a colunista Danuza Leão reclamou em sua coluna, indignada, de uma agência de Assessoria de Imprensa que queria divulgar o nome da empresa dos tapetes que decorariam o chão de um determinado evento.
- Dá pra dar uma notinha? - solicitou o assessor.

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